POESIA BAIANA
Indicação de José Inácio Vieira de Melo
RICARDO THADEU
Ricardo Thadeu é natural de Riachão do Jacuípe-Ba. Graduado em Letras com Língua Espanhola pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), onde também fez o curso de Especialização em Estudos Literários e atualmente cursa o Mestrado em Literatura e Diversidade Cultural. Publicou os livros D’ANTES (2009), durantes (2010) e Camisa de Marte (2012), além do livreto Cópia Oculta (2011). Participa das coletâneas O segredo da Crisálida (2011), Sangue Novo: 21 Poetas Baianos do Século XXI (2011) e Poesia.com (2012). Foi 6º colocado no I Concurso de Poesia Autores S/A (2011). Participou, como escritor convidado, da 10ª edição da Bienal do Livro da Bahia. Site Oficial: http://www.ricardothadeu.com.br/
Poemas do livro “D’ANTES” (2009)
APENAS UMA NOBRE INJÚRIA
Vivo,
sou um poeta vivo
Os mortos
estão no filme do Robin Willians
ou petrificados, em Copacabana.
A LASCÍVIA FEMININA
O corpo é o aposento da alma
tuas curvas, mulher, são a cama
móvel onde a luxúria
prepara com esmero o deleite
e o gozo, néctar do espírito,
jorra como uma doce cascata.
LIÇÃO DE GRAMÁTICA
estou aqui
mas não estou
sinto que sou
um sujeito desinencial
DEIXA ESTAR, RAPAZ, DEIXA ESTAR
para minha mãe
Quando estou na pior,
prestes a amarrar uma bigorna no pescoço
e me jogar da ponte
é você que me diz: let it be.
E quando eu quero correr pelado
e gritar para o mundo ouvir
que essa merda de vida não vale a pena,
é você que me diz: let it be.
E nas vezes que choro cortando cebolas
ou vendo meu time perder,
ou quando sei que os ETs
vão invadir a Terra,
que amanhã é segunda-feira
e percebo que essa é só a leitura
de uma canção famosa
é você que me diz: let it be.
JOGOS DE MONTAR
o ônibus não para na estação
gabriel comeu a irmã
Poemas do livro “durantes” (2010)
CALEIDOSCÓPIO
não há uma só causa
para a cólera dos cágados
para o claudicar dos cactos
para o desertar dos tártaros
CENA FUTURISTA
[televisão ligada]
a mãe, na sala,
descansava os ossos
o filho, no quarto,
assistia a uma puta
a filha, mulher-fruta,
apenas ouvia:
o gemido do irmão
o ronco da mãe
e as notícias do dia
TELEFONEMA
está tudo acabado, adeus
do outro lado da linha,
um tiro emudece a poesia
VÍDEO GAME
joguei com teu amor
perdi o controle
e não passei de fase
O CHAPÉU DECAPITADO
tenho uma verdade entalada
e outras tantas enlatadas
esperando uma mentira
equívoca
que me atire ao nada
LABORATÓRIO DE POÉTICAS. No. 9 -Maio de 2011. Diadema,
São Paulo: 2011 No. 1984 Ex. bibl. Antonio Miranda
CHAMADO
Em Tóquio, um homem escreve um poema:
Fantasmas transitam na calçada da fama.
Todas as luzes se acendem em Paris.
O universo conspira contra os Vikings.
A mulher tem orgasmos múltiplos.
O disco voador pousa em Londres.
Três mariachis cantam em Florianópolis.
Crianças morrem no Oriente Médio.
O robô japonês salva a humanidade.
O presidente do Chile envia um SMS.
Duas mulheres se beijam em Chernobyl.
O vampiro ataca a mocinha indefesa.
Moisés divide o mar vermelho em dois.
Elvis canta Love me Tender no rádio AM.
O cowboy mata mil e oitocentos índios.
Romeiros escalam milhares de degraus.
Em Tóquio o poeta para de escrever:
O mundo inteiro para junto.
*
Página publicada e republicada em outubro de 2023
Página publicada em fevereiro de 2013 |