Home
Sobre Antonio Miranda
Currículo Lattes
Grupo Renovación
Cuatro Tablas
Terra Brasilis
Em Destaque
Textos en Español
Xulio Formoso
Livro de Visitas
Colaboradores
Links Temáticos
Indique esta página
Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


 

 

JUDITH GROSSMANN

 

 

Escritora, poeta, ensaísta e, apesar do nome, brasileira, em 1966 e aos seus 35 anos, vai para a Bahia, uma vez que a cidade do Rio de Janeiro lhe parecia, como dito em depoimento, redundante, fazendo, assim, o movimento inverso ao de tantos outros personagens que se dirigiam ao Rio em busca de um “saber viver” que a cidade oferecia. Caminha, em direção a Salvador, na expectativa de fundar alguma coisa.

 

Professora de Teoria da Literatura da Universidade Federal da Bahia a partir de então e, na condição de estrangeira, Judith passa a se empenhar na produção de Oficinas de Criação Literária, algo que lhe conferiria, anos depois, o pioneirismo na realização desse tipo de atividade no Brasil. Propositalmente exilada e longe da família, se instala em terra estrangeira e, porque assim, necessita construir sua linhagem para dar continuidade a si mesma. Como todo clandestino, enfrenta os olhares enviesados na academia que a recebe. E com êxito, movimenta o cenário local: suas oficinas entrariam futuramente para o currículo do curso e, ao lado de alguns professores, ajudaria na concretização de uma pós-graduação em Letras na UFBA.       

 

Filha de imigrantes russos, Judith carregará o símbolo da sua diferença para o texto e para a vida. Nascida em Campos, RJ, em 1931, a escritora fantasiaria uma existência entre o exótico e o segredado. Nas linhas da ficção, rabiscaria os liames de sua genealogia à inventividade de um sujeito que se pretende biografável.  Ana Lígia Leite e Aguiar

TOTEM no. 1 revista cultural.  Junho / 1974 — órgão do d. a. da faculdade filosofia e letras de cataguases.   Cataguases, MG: 1974.  Edição mimeografada.

 

De

Judith Grossmann
VÁRIA NAVEGAÇÃO: MOSTRA DE POESIA
Capa de Floriano Teixeira.
Salvador: Fundação Casa de Jorge Amado, 1996. 182 p.
(Casa de Palavras. Série Poesia)

 

 

 

O tomate-fantasma

No início do dia
Toma-se um tomate
Já bem escolhido de antes
Entre a multidão de tomates.
Pesquisa-se com o olhar
O segredo do vermelho
E com a mão a regra do cetim.
Lava-se o mesmo com cuidado
Enxugando-o numa toalha adequada
À textura de sua epiderme.
Corta-se o tomate
Em delgadas rodelas
Com uma faca serrilhada
Colocando-se o mesmo
Num prato de louça branca.
Rega-se o tomate
Com óleo
Acrescentando-se sal a gosto.
Na varanda se degusta
Em finas fatias de torradas
O pomodoro
E nele também se degustam
Um por um
Os ademanes do pai.


 

Sonho Causado por uma Enguia Um Segundo Antes de Despertar

 

 

Uma enguia visitou-me em sonhos

Escorregadia

Esganando-me a goela.

Ou era o sempre cipó

Do soneto de Jorge de Lima

O mesmo que esmagava florestas.

E eram multidões de estrelas de sangue

Rubro tinto

Com certeza o de Augusto dos Anjos 

(Oh! o cansaço dos bisavós)

E as árvores implorando pausas sestas 

De Millet e de Van Gogh.

E todos os brios do campo

Para ofertar às criaturas mortas de sede.

Urubus voejavam

E a sorte era

A carne túrgida

Servia ainda de amparo

Ao espírito-mola

E nunca venceria a envilecente fadiga.

— Até o fim — rugiam as doces feras fraternas

Até o fim!  Era o repique de um sino

E era o tigre ele próprio

Com seus coruscantes olhos de William Blake.

E para além do sonho

O real puro absoluto.

 

 

A Visita Inesperada

 

Estamos sentadas aqui 

Matilde

Sua neta Cibele

E eu.

É a sala de uma casa de alta resolução 

E quedamos as três inteiras dentro dela.  

Cibele sonha com chocolates

Matilde sonha em agradar-me

E eu não sonho com nada.

Matilde olha os livros

Os papéis

Não vê outra coisa

E me confia feliz:

"A sua é uma vida bonita

Tudo quieto

Tranqüilo..."

E eu surpresa com tamanha súbita compreensão

Deixo o momento ficar boiando

Como um lustre na sala.

 

 

O Engenheiro

 

Na química e cardápio desta minha mente,

Que se projeta e lança em pós de uma miragem,

Penetram lobo e lobisomem, mas não gente,

E os venenos da terra engole com voragem.

O que existe inexiste em seu esquema frio,

E se por bem o que inexiste é existente,

Traz-lhe pouco ou nenhum contentamento e brio,

Pois rápido recusa o sonho feito em ente.

Ferro, vidro e metal, na cidade de barro,

Atrás, à minha frente, todo o espaço é vago,

Meu corpo é a só área e tempo em que naufrago.

No que a mão toca escarro e nas quinas esbarro,

Vegetação não medra e o sonho se desgasta,

Obrei destruir-me, mas é bem pouco, não basta.

 

 

 

A Hora

 

Seguidamente doce música ouvi,

Audível só ao coração atormentado,

Aves gritantes, nas alturas, revivi,

Esferas sônicas, o espírito endoidado.

Estava eu contida em alto leito alvo,

Compartilhando o escuro, mãe de minha filha,

E pressenti vozes do espírito já salvo,

Álgido corpo debatendo-se em ilha.

Lançada após a um outro cômodo escuro,

Onde era cega, tive tinta e pergaminho,

Quando explodi por vã janela ao ar mais puro.

Voei no vento, soluçando no caminho,

Baixei os olhos, aceitei o contratempo,

Provisional testemunhar o tempo aflito.

 

 

 

Exemplar gentilmente cedido por nossa amiga Myriam Fraga.

 

 

 

 


Página publicada em janeiro de 2010.

 

Voltar para a  página da Bahia Voltar ao topo da página

 

 

 

 
 
 
Home Poetas de A a Z Indique este site Sobre A. Miranda Contato
counter create hit
Envie mensagem a webmaster@antoniomiranda.com.br sobre este site da Web.
Copyright © 2004 Antonio Miranda
 
Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Home Contato Página de música Click aqui para pesquisar