JOÃO CARLOS TEIXEIRA GOMES
Nasceu em Salvador, Bahia, em 1936. Poeta, ensaísta, jornalista e professor da Uni
versidade Federal da Bahia.
Livros de poesia publicados: Ciclo imaginário (Salvador: Edições Arpoador, 1975); O domador de gafanhotos (Salvador: Fundação Cultural do Estado da Bahia, 1976); A esfinge contemplada: e outros poemas (Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1988).
SONETO DA PERDIÇÃO
Deu-me um deus de legado o tempo escasso
e o anseio de retê-lo em urdiduras.
Murcham flores nos campos por que passo
exilado em angústias já maduras.
0 que sou não sei bem, nem o que faço.
Débil luz entrevejo nas clausuras
das fatais emoções em que desfaço
a antiga vocação das coisas puras.
Viajante que perdeu os seus roteiros
por querê-los é que ando em desatino
sob o cerco de demônios traiçoeiros.
Nau fendida que busca o porto vasto,
quanto mais de meus rumos me aproximo
mais sinto que de mim próprio me afasto.
O domador de gafanhotos (1976)
ALMA E ARGILA
Não te constranja o céu indiferente
que do tempo inconcluído te espreita,
porque é aquém do céu que esplende o sonho
da carne em glória no mundo evanescente.
No céu já te aguarda outra colheita.
Acaba de sair pela Editora Global, sob a direção de Edla van Steen, mais um volume da série ROTEIRO DA POESIA BRASILEIRA : ANOS 70 – Seleção e prefácio de Afonso Henriques Neto, já conforme o Novo acordo ortográfico da língua portuguesa. (São Paulo: Global, 2009). A maioria dos poetas da antologia já constam de nosso Portal de Poesia Iberoamericana. Selecionamos uns poucos poemas de uns poucos autores para divulgar e recomendar a publicação, cuja capa estampamos acima. ISBN 978-85-260-1154-0.
De
GOMES, João Carlos Teixeira.
Ciclo imaginário.
Salvador: Edições Arpoador, Fundação Cultural do Estado, 1975.
33 p (Col. Jogral, volume III)
Plaquete composta e impressa na tipografia dos Monges Beneditinos da Bahia. 18 x 25,5 cm. Letras capitulares dos poemas impressas em azul Col. A. M. (EA)
MAIO
Sitiado fui por maio, em pleno outono,
Sob o fascínio das coisas amarelas.
E despertando enfim de um longo sono
Carpi o amor em ritmo de procelas.
Amor que é mais amor tem uma sina:
Explode em flama, em dor, em violência.
Se é maior no sofrimento nos ensina
Que mais lúcido é, quando em demência.
Era maio o grande mês contraditório.
Pois se em tudo que existia ele tocava
Com seu manto ourescente e ilusório
Só em mim uma exceção à regra abria:
Tanto mais o meu outono se dourava
Mais rubro, no meu peito, amor ardia.
Página publicada em novembro de 2009
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