ANTONIO B. MACHADO
ANTONIO BIZERRA MACHADO - Nascido em Uibaí — Estado da Bahia — em 15/6/31. Ex-Chefe de Secretaria da 1 .a Junta de Recursos da
Previdência Social no Estado de São Paulo. Bacharel em
Filosofia pela Universidade de São Paulo.
MACHADO, Antonio B. Poemas seletos. São Paulo: Massao Ohno Editor 109 p. s.d. 14x21 cm. “ Antonio Bizerra Machado “ Ex. bibl. Antonio Miranda
ESTRÁBICA
Olha-me e não me olha. Antagonismo
de aparência e realidade. Ignoram-me
seus olhos lá no fundo da intenção
e a num parece que me falam e olham-me.
Entre a intenção e seu olhar medeiam
milhas. Fecundo é entre os dois o abismo.
Está nela o coração longe dos olhos
— maravilha e sucesso do estrabismo!
Para leem tais olhos força é amá-los
ou ter a habilidade de testar
moedas pelo ritmo do sangue,
e discernir o amor por um sonar.
Olhos bilingues, protetores da alma
com olhar que é cilada e amavio.
Diga-se deles que inverteram o óbvio.
e a Beleza os conduz por um desvio.
O PÉ E O RASTRO
O pé e o rastro — dualismo essencial.
Realidade gerando seu sinal,
ser inequívoco em denúncia múltipla.
Rastro — o pé em sua forma repetindo-se.
Pé — corpo inconfundível entre os astros
a gerar novo espécime — o dos rastros.
Cada forma de pé conforme à espécie
andante. Cada rastro, conformado
com a forma do pé que o tem formado:
Pé da alimária, bípede-quadrúpede,
dedos e cascos perseguindo rotas
no voar-caminhar do dia-a-dia.
Pé redondo, passo longo sobre a via,
da roda no seu rastro auto-negando-se
(o círculo buscando uma ruptura).
E o pé oblongo — marcas descontínuas,
pé nu, ou disfarçada identidade
no sapato: do homem dos caminhos
ou das ruas, pé ansioso da cidade
repisando razões com passos trôpegos
e irracionalidades, "pari passu".
Pé e rastro — recíproca denúncia.
Destinos díspares, não obstante,
quando o pé sofre e some (olhar distante
perseguindo-o) e o rastro permanece
na muda e quieta impassibilidade.
Página publicada em junho de 2014
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