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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


ALMANDRADE

Almandrade é artista plástico, poeta e arquiteto.

Veja também: POESIA VISUAL de Almandrade

ALMANDRADE

De
ARQUITETURA DE ALGODÃO
(Poesia Reunida)

Salvador: Secretaria da Cultura e Turismo
Fundação Cultural do Estado,
2000
ISBN 85-86485-89-6

DDe

Privilégio do verbo
o verso vem de longe
traduz o dia pardo
o ser hesita
na lógica de sua
harmonia perceptível
e o universo
talvez seja
um vasto erro
estendido entre
o signo e o vazio.


MATEMÁTICA SEM NÚMERO

Bem de leve
no sereno vôo
rumo ao mistério
a resistência
é o equívoco de ontem
a consciência
se perde
na inquietude do desejo.


ARQUITETURA SEM PAREDE

Na suavidade
de um toque
o gozo roça o desconhecido
o saber descobre imagens
a respiração é a vibração
de um mundo imaginado
a pintura revela
o azul obsceno da paisagem.

   *     *     *

O imprevisto
espera uma data
apagou-se
o possível firmamento
nem uma estrela
o rosto dorme
um passo
um grito
o poente deixa a tela
o cinema
acende suas luzes

 

ALMANDRADE.  Malabarismo das pedrasPoesia.  Feira de Santana, BA: Museu de Arte Contemporânea de Feira de Santana, 2010. 68 p. (Coleção Aldebarã, 5)  11,5x19,3 cm.   Ilustração da capa: Almandrade.  “ Antônio Luiz M. Andrade “  Ex. na bibl. Antonio Miranda.

 

UMA CASA

 

Na distância dos cobogós

o ar da cidade habita a casa

e refresca a tarde.

 

O mar sempre

contornado pela moldura

da janela aberta

 

 

OBSCURO

 

Risco na pele

fala que preserva

rumor do inevitável

um lugar

antes do texto

olhos que fustigam

o horizonte

e nada mais.

 

 

UM NÃO LUGAR

 

Texturas que procuram

urna superfície

vagam

transportam o vazio.

Só a pintura

tem o conhecimento

dos seus efeitos.

Possível abrigo

para a rotina

de um voyeur.

 

 

==========================================

 

 

 

 em tempos de reclusão

 

Almandrade Andrade

 

Textos enviados pelo autor em

Seg, 27/07/2020
durante a pandemia do Coronavirue

 

 

 

 

QUARENTENA

 

O desejo de sair não é maior

que o medo do inimigo invisível

a insônia não amedronta o tempo

nem a noite que parece eterna

lá fora a chuva na rua deserta

indiferente à solidão dos que

se escondem nas casas da cidade.

 

 

 

***

 

 

 

O som do trompete

de Chet Baker desliza

no silêncio do cômodo

As horas passam nos livros

para os últimos leitores

cortinas abertas

recepcionam os raios do sol.

 

 

***

 

A porta da sala

não é saída

nem entrada

o mundo está cercado

nas paredes do quarto

o dia e a noite

se revezam

o sol entra pela janela

para dizer

que estamos vivos.

 

 

***

 

 

Vento solitário
varre o vazio

da cidade

o dia passa

como um cão

abandonado

o presente espera

o amanhã.

 

 

*

 

 

Turbinas dos aviões

desligadas

viagens congeladas

atrás de paredes.

Entre a sala, o quarto

e a cozinha

sonhos são sombras

invisíveis.

Indiferente

os pássaros no ar

exibem liberdade
e cantam a natureza.


 ***

 

 

A dignidade do faminto
é fugir do desespero da

panela vazia,

transgredir leis e decretos

ganhar a rua

não importa o perigo

a fome é mais forte.

 

 

*

 

 

A velhice

reflete no espelho

a crueldade do tempo

e uma certeza

nada é eterno.

O legado

é o acúmulo de saber

projetado na tela

da história.

 


DIMENSÃO – REVISTA INTERNACIONAL DE POESIA.  ANO XI – No. 27.  Uberaba, Minas Gerais, Brasil: 1991.  130 p.    Editor: Guido Bilharino   192 p.          Ex. biblioteca de Antonio Miranda

 

    um traço no espaço
    indizível
    há muito
    exalta um tema
    ingênuo instante
    uma hipótese
    a substância das formas
    não define
    o absoluto.


*
página ampliada e republicada em maio de 2024.

 

 

Página publicada em janeiro de 2009. Ampliada e republicada em julho de 2014. Página ampliada em julho de 2020

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