LUIZ AMÉRICO

Escreveu inúmeras poesias nos jornais de Maceió, no meiado do século 19. Era, pelo que lemos no seu vasto acervo poético, um espírito de imaginação, mas um tanto ou quanto pessimista.
ROMEU DE AVELAR

SAUDADES

Como vens triste, ano novo!
Só me trazes amargores,
Mil torturas e rigores,
Dura saudade, cruel;
Tenho a minh’alma oprimida,
De mil tormentos partida!
E meu pobre coração
Só goteja negro fel!

Saudade, cruel saudade!
Por que me feres assim?
Saudade tem dó de mim,
Tu me retalhas o seio!
Que te fiz eu, linda flor,
Filha do pranto e da dor,
Pra sofrer tanto rigor,
Sem um riso de permeio?

Ai! parte, vai, vai ligeira,
Vai buscar a minha flor,
Minha vida, meu amor,
Senão eu morro, piedade!
Vai pousar no coração
Dessa ingrata, compaixão!
Diz-lhe que volte ou então
Eu morrerei de saudade!

Não vês como eu sofro e choro?
Não vês meu pranto correr?
Sentes minh'alma gemer,
E não tens pena de mim?
Nem mesmo o meu pranto exprime
A dor que meu peito oprime
Olha, saudade, é um crime,
Matares um amor assim!

Caminha, parte, oh! saudade,
Vai pousar no seio dela,
Dessa flor mimosa e bela,
Vai dizer-lhe a minha dor.. .
Fere o peito dessa ingrata,
Golpeia sem dó, maltrata,
Diz à ela, que me mata.
Do seu desprêzo o rigor.

Depressa, vai, oh! saudade,
Já não me posso conter!
Tu bem vês o meu sofrer,
Minha dor, minha aflição.
Anda ligeiro, oh! saudade,
Vai buscar o meu amor,
Vai e traze minha dor!

Página publicada em janeiro de 2016.