ANFILÓFIO JAYME DE ALTAVILLA MELO
(1895-1970)
Cursou o Liceu Alagoano e foi, desde a sua juventude, o cronista mais assíduo que já teve a imprensa alagoana. Bacharelou-se em Direito na Faculdade da Universidade do Rio de Janeiro, em 1923. Ocupou os seguintes cargos na sua terra natal: Diretor da Imprensa Oficial, Prefeito de Maceió e deputado estadual. Foi Diretor da Faculdade de Direito de Alagoas. Pertenceu à Academia Alagoana de Letras desde a sua fundação, tendo como patrono Torquato Cabral, e também presidente do Instituto Histórico de Alagoas.
Nasceu em Maceió, aos 17 de outubro de 1895, sendo seus pais Balbino
Figueiredo de Melo e dona Deolinda Melo.
Publicou: «Crepúsculos de ouro e sangue» (poesias), «Mil e uma noites» (crônicas), 1921; «Gênese da Literatura Alagoana», 1922; «Novelas» (menção honrosa da Academia Brasileira de Letras), 1925; «O Quilombo dos Palmares», 1932; «A Extinção da Capitania da Paraíba», 1932; «História da Civilização das Alagoas», 1932; «História da Civilização do Brasil» 1934; «Portugal e Brasil de D. João VI», 1940; «Canto Nativo» (versos) e «Direitos do homem», 1956.
Extraído de:
AVELAR, Romeu de. Coletânea de poetas alagoanos. Rio de Janeiro: Edições Minerva, 1959. 286 p. ilus. 15,5x23 cm.
QUANDO EU MORRER
Quando eu morrer, Você rasgue um pedaço deste céu
E faça dele a minha mortalha.
Quando eu morrer, Você cave um torrão de terra virgem
E faça dele o meu travesseiro.
Quando eu morrer, Você arranque o Cruzeiro do Sul
E faça das estrelas os meus círios.
Quando eu morrer, Você asperge a água verde das Lagoas
Sobre os meus restos humanos.
Quando eu morrer, Você corte um ramo de pitangueira
E cruze, sobre ele, as minhas mãos.
Quando eu morrer, Você plante sobre a minha sepultura
Uma palmeira urucuri.
Quando eu morrer, Você reze nos meus ouvidos
A Sinfonia do Guarani.
Quando eu morrer, Você encomende a minha alma nativa
A Rudá e a Tupan.
Quando eu morrer, Você diga aos que perguntarem por mim
Que eu morri como nasci:
Brasileiro.
Brasileiro.
Brasileiro.
O CONSELHO PERDIDO
Meu velho professor Francisco Chagas
(Corpo feito de sombras e alma de cal)
Sempre na minha infância me dizia:
— Ande com gente boa; evite má companhia.
Muito cedo esqueci o conselho sensato
Do velho professor do carrancismo.
E arranjei um amigo indesejável:
— O sentimentalismo.
E este me fez ficar ao lado dos humildes,
Dos preteridos e dos fracos.
E como nada tinham que me dar,
Ficamos todos com as mãos vazias,
Ficamos todos no último lugar.
Meu velho professor Francisco Chagas:
Perdi o seu conselho e perdi minha sorte.
Eu devia ter buscado a companhia
Do mais audacioso e do mais forte.
SAUDADE DO MEU AVÔ
Meu avô teve um engenho.
Teve terra pra plantar.
Teve cavalo de sela
E espora de tilintar.
Meu avô quando saía,
Minha avô sempre ficava
a espreitar ...
Meu avô teve senzala.
Teve negro a trabalhar.
Gostava de ouvir batuque
E ver os negros dançar.
Meu avô quando saía
Minha avó sempre ficava
A maldar ...
Meu avô teve boiada.
Teve vaqueiro a aboiar.
De noite ouvia viola
Sob o manto do luar.
Meu avô quando saía
Minha avó sempre ficava
A resmungar ...
Meu avô teve fazenda.
Teve moeda pra contar.
Meu avô era galante
E sabia conquistar.
Meu avô quando saía
Minha avó sempre ficava
A chorar ...
Página publicada em novembro de 2015
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