Foto: www.didinho.org/  
                      
                    AGNELLO  REGALLA 
                       
                        Campeane, Guiné Bissau, 1952. 
                        Jornalista. 
                     
                      
                      
                      
                    O ECO DO  PRANTO 
                      
                    Não  me digas 
                    Que  essa é a voz de uma criança 
                    Não... 
                    A  voz da criança 
                    É  suave e mansa 
                    É  uma voz que dança... 
                    Não  me digas 
                    Que  essa é a voz de uma criança 
                    Parece  mais 
                    Um  grito sem esperança 
                    Um eco         
                    Partindo  de fundo de um beco 
                    Não  me digas 
                    Que  essa é a voz de uma criança, 
                    Essa  é doce e mansa 
                    É  uma voz que dança... 
                    Esta  parece mais 
                    Um  grito sufocado sob um manto 
                    -  O Eco do Pranto. 
                     
                      
                      
                    AMAR 
                      
                    Amar 
  É o mesmo que escrever 
                      Docemente, 
                      Amargo, 
                      Mas incompleto. 
                      
                    FLOR  NOCTURNA  
                      
                    Flor  nocturna 
                    Que  com a lua 
                    Desabrochas  em meus braços 
                    Flor  soturna 
                    Que  pelas sombras da rua 
                    Guias  teus passos, 
                    Flor  amiga 
                    Com  pétalas de estrelas 
                    E  résteas de luar 
                    Deambula  noctívaga 
                    Pelas  vielas 
                    E  vem-me abraçar. 
                      
                      
                    ÁTOMO 
                           
                      Vi uma criança 
                      Dobrar-se inocente 
                      Sob o peso da bomba. 
                      Vi o átomo 
                      Desagregar-se em  morte 
                      E cobrir em cogumelo 
                      A Humanidade, 
                      E lágrimas de sangue 
                      Ergueram-se 
                      Em ogiva 
                      Sobre o deserto, 
                      E lá longe, 
                      Uma pomba branca 
                    Que  sobreviveu 
                      Sem arca e sem Noé 
                      Chorou a loucura do Homem.  
                      
                     Extraído de  
                      PORTUGUESIA  CONTRAANTOLOGIA- Minas entre  os povos da mesma língua 
                      org. Wilmar Silva. Belo Horizonte:  Anome Livros, 2009.  507 p.  (c/CD) 
                      ISBN  978-85-98378-343-5   www.anomelivros.com.br – anomelivros@anomelivros.com.br  
                      
                    POEMA DE UM ASSIMILADO 
                    Fui levado  
                      a conhecer a nona Sinfonia  
                      Bethoven e Mozart  
                      Na música 
                      Dante, Petrarca e Bocácio 
                      Na literatura. 
                      Fui levado a conhecer 
                      A sua cultura... 
                      Mas de ti. Mãe Africa? 
                      Que conheço eu de ti? 
                      Que conheço eu de ti? 
                      A não ser o que me impingiram? 
                      0 tribalismo, o subdesenvolvimento, 
                      E a fome e a miséria 
                      Como complementos... 
                      Não me falaram de ti 
                      E dos teus filhos, Mãe Africa. 
                      Esqueceram-se 
                      De Samory e Abdelkader, 
                      Cabral e Mondlane, 
                      Lumumba e Henda 
                      Lutuli e Ben Barka 
                      Não me falaram da revolução 
                      De Canhe Na N'Tuguê e Domingos Ramos 
                      De Areolino Cruz e Pansau 
                      De Guerra Mendes e Ludjero 
                        Mas falaram-me dos Bandas e Honóraios. 
                        Dos que te esqueceram 
                        E faugiram à doce melodia 
                      Dos corás.*  
                      
                    *corá – instrumento de cordas   
   |