Home
Sobre Antonio Miranda
Currículo Lattes
Grupo Renovación
Cuatro Tablas
Terra Brasilis
Em Destaque
Textos en Español
Xulio Formoso
Livro de Visitas
Colaboradores
Links Temáticos
Indique esta página
Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

DANIEL FILIPE

 

Daniel Damásio Ascensão Filipe -  Poeta e jornalista de Cabo Verde. Nasceu  Ilha de Boa Vista,  a 01/02/25 e faleceu  06/04/64 . Fez os seus estudos liceais em Portugal  e, mais tarde, foi co-diretor dos Cadernos "Notícias do Bloqueio", colaborador assíduo da Revista "Távola Redonda" e realizador, na Emissora Nacional, do Programa Literário "Voz do Império". Combateu a ditadura salazarista, sendo perseguido e torturado pela P.I.D.E.

Seu primeiro livro foi Missiva, publicado em 1946. O reconhecimento viria com A Ilha e a Solidão (1957), com o qual conquistou o Prêmio Camilo Pessanha.

Obras Publicadas:

Missiva (1946); Marinheiro em Terra (1949); O Viageiro Solitário (1951); Recado para a Amiga Distante (1956); A Ilha e a Solidão (1957); O Manuscrito na Garrafa (romance, 1960); A Invenção do Amor (1961) e Pátria, Lugar de Exílio (1963).

 

Morna

É já saudade a vela, além.
Serena, a música esvoaça
na tarde calma, plúmbea, baça,
onde a tristeza se contém.

Os pares deslizam embrulhados
de sonhos em dobras inefáveis.
(Ó deuses lúbricos, ousáveis
erguer, então, na tarde morta
a eterna ronda de pecados
que ia bater de porta em porta!)

E ao ritmo túmido do canto
na solidão rubra da messe,
deixo correr o sal e o pranto
— subtil e magoado encanto
que o rosto núbil me envelhece.  

       "in"  A Ilha e a Solidão     

 

Canto e Lamentação na Cidade Ocupada 

9.

Mas há a noite. O estar sozinho
e no entanto acompanhado — servo de um deus estranho
cumprindo o ritual jamais completo.
Mas há o sono. A lúcida surpresa
de um mundo imaterial e necessário,
com praias onde o corpo se desprende.
Mas há o medo. Há sobretudo o medo.
Fel, rancor, desconhecido apelo,
suor nocturno, rápido suicídio.

 

(Texto enviado por Guida Burt). Página publicada em setembro de 2013.

 

ROMANCE DE TOMASINHO-CARA-FEIA

Farto de sol e de areia,
que é o mais que a terra dá,
Tomasinho-Cara-Feia
vai prá pesca da baleia.
Quem sabe se tornará?

Torne ou não torne, que tem?
Vai cumprir o seu destino.
Só nhá Fortuna, a mãe,
que é velha e não tem ninguém, chora pelo seu menino.

Torne ou não torne, que importa?
Vai ser igualzinho ao avô.
Não volta a bater-me à porta;
 deixou para sempre a horta,
que a longa seca matou.

Tomasinho-Cara-Feia
 (outro nome, quem lho dá?)
foi prá pesca da baleia.

          — E nunca mais voltará.

 

NÃO FORA O GRITO...

         Não fora o grito      a faca
         de súbito rasgando
         a fronteira possível
         Não fora o rosto     o riso
         a serena postura
         do cadáver na praia

         Não fora a flor         a pétala
         recortada em vermelho
         o longínquo pregão
         o retrato esquecido
         o aroma da pólvora
         a grade na janela

         Não fora o cais        a posse
         do nocturno segredo
         a víbora     o polícia
         o tiro    o passaporte
         a carta de Paris
         a saudade da amante

         Não fora o dente agudo
         de nenhum crocodilo

         Não fora o mar tão perto
         Não fora haver traição

                  (A Invenção do Amor e outros poemas)


        

         SALA DE ESTAR

         Teu sonho tem a forma de um navio,
         inesperadamente enraizado
         entre pólipos, limos, rapazio
         do cais abandonado.

         Para a viagem que não há, arvora
         o negro pavilhão das aventuras.
         — Vê-lo-ás partir um dia, no remanso da aurora,
         sereno recendo o vento nas amuras.

         Onde irá naufragar?  A que praia distante
         irá fazer aguada num domingo de sol?
         A que estranha paisagem a brisa do levante
         o levará, talvez?  A que pérfido atol?

         (Entanto, só navio
         na moldura da sala,
         é quase o desafio
         de quem conhece e cala.)

                   (Ibidem)

        

         COMO AÇUCENA...

         Como açucena, abre-se o teu rosto
         por sobre a doce, tímida paisagem:
         serena imagem
         na manhã de Agosto.

         Como magnólia, vertes o perfume
         das tuas ancas sobre o pinheiral:
         ávido lume,
         casto e sensual.

         Como pinho selvagem, te recebo
         e amo no chão de areia ensolarado:

         Ingénuo efebo
         deslumbrado.

                   (Ibidem)

 

 

Página ampliada em janeiro de 2016. Página ampliada em setembro de 2016.


 

 

 
 
 
Home Poetas de A a Z Indique este site Sobre A. Miranda Contato
counter create hit
Envie mensagem a webmaster@antoniomiranda.com.br sobre este site da Web.
Copyright © 2004 Antonio Miranda
 
Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Home Contato Página de música Click aqui para pesquisar