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GARCIA BIRES
Bireslav Wolker e o pseudónimo de João Garcia Bires, nasceu em Luanda aos 27 de Fevereiro de 1944. Fez o ensino primário na Escola Evangélica de Luanda e o secundário no Colégio da Casas das Beiras.
Em setembro de 1960, abandona o País refugiando-se com alguns colegas no Congo- Leopoldville, actual República Democrática do Congo. Publicou vários poemas no boletim informativo do MPLA, e nos Jornais e Revistas da juventude das República ex - socialistas da Checosvaquia , Hungria e da URSS. É licenciado em direito Internacional pela Faculdade de Economia e Direito, da Universidade Partice Lumumba, em Moscovo. Membro da União dos Escritores Angolanos, Garcia Bires exerce actualmente o cargo de Embaixador de Angola, na República de Moçambique, depois de ter exercido tal cargo na Namíbia. É autor de três obras literárias, nomeadamente: Dia do Calendário, O Silêncio acordado, e Olhadelando.
De
Garcia Bires
EXPRESSÃO
Luanda: União dos Escritores Angolanos, 2009. 98 p.
DIZERES OCULTOS
Não há palavras exactas capazes de dizer o que levamos.
Não existem olhares que demonstram nossos múltiplos sonhos.
Existirão razões que justificam as nossas sofridas penas?
Não existem sinais que vêm de muito longe.
Não há argumentos que a lógica não traduz.
Subsistem vontades antigas em coisas novas.
Existem gestos que substituem palavras.
Existem palavras que nascem mudas.
Há vontades. Há gestos. Há palavras cada vez mais novas.
E ainda há dizeres ocultos no silêncio absoluto das horas.
A GARÇA E A ANDORINHA
(Primeiro episódio)
A garça pernalta
Escondia sua perna em cada onda que se partia.
A andorinha pernicurta
Mergulhava seu corpo no sopro do vento que se perdia no despovoado.
Pernalta recordava seu passado. Cantava seu canto que se perdia em cada onda.
Encolhia sua perna para não perturbar o sono da sereia sua guardiã.
Pernicurta perdia-se na imensidão do espaço. Olhava para além do horizonte
Na esperança do seu amor distante a receber de braços abertos
Ou de repente descortinar que no areal do chão do seu antigamente
Seus passos ainda estavam marcados nos caminhos de outros tempos.
(Segundo episódio)
Ao morrer do dia
À beira-mar
A garça e andorinha chegaram até mim.
Traziam conversas francas como suas plumagens.
Como novas ondas que sem reclamar se partiam.
Lentamente me confidenciavam seus sonhos
Como a luz do sol que silente me fugia.
Contaram-me as aventuras atravessadas.
Falaram-me dos passeios de outros tempos.
A garça envolta no fato de gala
Era a rainha-mãe da tarde.
A andorinha vestida de negro sua alegria
Revelava suas habilidades.
Sua gravata era a saudades de outras horas.
Atentamente eu testemunhava
A garça e a andorinha envolvidas nas suas lidas.
Soberbo ouvia com curiosidade crescente suas confidências
Textos gentilmente cedidos por Abreu Paxe. Página publicada em novembro de 2010 |