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POESIA ANGOLANA

CHÓ DO GURI

Maria de Fátima (Chó  do Guri) nasceu no Kwanza -Sul no dia 24 de janeiro de 1959. Obras publicadas: “Vivências” (1996), “Bairro Operário” (1998) e “Morfeu” (2000)

 

Ó poesia!

Ó' poesia,

A aura do teu sorriso

Tira o queixume do mundo
Quando se abre imaculado
Pr'o parto plúrneo das palavras

Deusa das belezas ocultas
No mundo floresces

Dás força à vida

Deixa-me só(mente)sorver

O fluído das palavras luzidias
Aspergi-Ias como água benta
Para irmandade entre os homens
Ó poesia!

 

 

Inocência

Já venerei dias de miséria
nos ponteiros trilhados

de um relógio sem tempo
onde cresce o meu tormento

o mesmo flash se repete
Com miúdos sem nome
a abraçar desgraças

nas ruas ...

andam aos milhares

soltando as malícias do ventre
as vozes de fome

no e mesmo instante
em cada flash
brilham as barrigas

destes miúdos que esperam

(sem tempo) a abraçar desgraças
contrastam com as barrigas eminentes
da gente que passa e

se escapa a escarrar luxúria

regresso odiosamente à minha infância
com impulsos incontrolados do coração

onde se encontra a muda revolta da minha aflição

vejo-me
revejo-me

nestes retratos na rua

onde o flash se repete em cada esquina
como um pedaço de mim
escondendo-me dos bocejos da noite
mas essa graça da inocência ... eu já perdi.

 

 

 

Batam palmas

Batam palmas

Sou indigente vagabundo

Quero brindar-vos com verdades d'alma
Expulsar as serpentes que me atormentam

Reunir-me com os dementes
Pulular nas lixeiras da mente
Declamar poemas

Com palavras minhas

Ainda que ridicularizadas
Não quero que as abortem
São minhas e as defendo
Confesso

Batam palmas!

Batam palmas por favor

Vou declamar
Apalpar-vos a alma

Ver-vos no meu rnicrofilme
A exorcizar a vossa poesia
Que sairá aos soluços

Batam palmas!

Batam palmas ... palmas

Preciso e quero arrotar

Toda a poesia vadia

Impregnada de todo o meu eu

Batam palmas! Batam palmas! Batam

 

Página publicada em agosto de 2011


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