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ANA BRANCO


 

Ana Maria José Dias Branco nasceu na Lunda Norte aos 24 de Maio de 1967.

Obras Publicadas: «Meu Rosto e Minhas Magoas» (1997) e «A Despedida de

Mim»

 

 

Sétimo Poema

Dormitei na noite coberta de frio
Enquanto sonhava
Com a tempestade que me cobria
Quando subtilmente
Entreabri os olhos
E despertei sobressaltada
Ouvindo uivos e ganidos do vento furioso a lamentar-se.


Subi os degraus da solidão
E ouvi
O vento chamar por mim,
Como quem diz:
— "Sai, Sai, procura os filhos que pariste perdidos algures pelas savanas distantes das praias ensolaradas africanas".

O medo entranhou-se-me
Nas veias ensanguentas da carne
Estremecendo a medula dos cérebros
Que tão dificilmente carrego.
O vento estava furioso comigo
E a chuva castigava-me inocente.
Estava tudo coberto e enevoado,
A água escorria e encobria
Todas as portas dos vizinhos desconhecidos,
Nenhum som era desenhado na terra figura da chuva forte.

 

Chovia simplesmente

 

Saí...

E meu corpo sacudiu estonteante

Ao embate do vento

E da chuva na pele

Sangrava violentamente o espírito desesperado

Que lutava pelo escasso espaço a circular pelas artérias,

Lutava para me manter à tona.

Os pulmões vomitavam os sons lindos da morte.

 

Estava a morrer
Enquanto o mundo fugia devagar

Por toda aquela maré.

Já todos tinham ido embora,

Tinham todos fugido da chuva

E do vento

Gritando os nomes sonantes dos parentes

Já falecidos lá longe pelas velhas matas do Maiombe.

 

Estava a morrer,

Mas ecoei os ecos dos mortos

Enquanto lutava para chegar ao único sítio

Onde seria feliz

à sombra da minha árvore.

 

Despertei,

Não choveu

Eram as lágrimas de uma criança que me molhavam.

 

 

 

Finalmente a verdade

 

Estava linda e purpurina

Saciando a fome e sede à solidão,

Quando de entre as mãos sujas,

Do Carteiro amarfanhado,

Estremeci ao tocar na mensagem

Vinda dos roseirais.

 

Mandaram-me os delírios da discórdia,

Os insultos de paixões sovinas egoístas.

Mandaram-me o corpo e

A mulher negra tão amada.

Mandaram-me o filho,

Por mim mal parido.

 

Lágrimas correram ao ter nas mãos

A mensagem que não tinha,

O cheiro doce dos roseirais,

Nem a cor mimosa das flores sensuais.

 

Continha, sim, finalmente a verdade;

Das epopeias de um amor repudiado.

 

Faltava pouco amor,

Para te encontrar então nas esquinas

Mais queridas das cidades,

Que em múltiplos orgasmos imorais,

Naufragávamos juntos para além,

Além dos roseirais...

 

 

 

Extraídos de TODOS OS SONHOS - Antologia da Poesia Moderna Angolana. Org. Adriano Botelho de Vasconcelos. Luanda: União dos Escritores Angolanos, 2005.

Página publicada em setembro de 2010


 


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