ABREU PAXE
Abreu Castelo Vieira dos Paxe, nasceu em 1969, no Colonato do Vale do Loge, Província do Uíge, filho de operário e de mãe doméstica. Venceu o concurso Um Poema para África em 2000, e foi animador do Cacimbo do Poeta na sua 3ª. edição, atividade organizada pela Alliance Francisco por ocasião da dia da África. Figura na Revista Internacional de Poesia “Dimensão n. 30 de 2000, na antologia dedicada à poesia contemporânea de Angola, editada em Uberaba, Brasil.
De
Abreu Paxe
O VENTO FEDE DE LUZ
Luanda: União dos Escritores Angolanos, 2007. 84 p
de certo modo os destroços palavras
de igual modo as partículas invariáveis traços lábias
sempre há uma mulher no mal
por isso trepo meu olhar pelas paredes e pelo tecto
o último cruzar de pernas
zona prestigiada o eixo compreendia o acento de intensidade
junto todos os sentidos no modo algum tempo exacto
sem esquecer na via erudita expressão
o étimo uma mesa com o portal aberto
outro reino de certeza
a comunicação oficial adoptou o berço língua lençol
tanto tempo sonorizado
estava inscrito nas fronteiras este período
das alíneas funções sintácticas
diferenças dos pares vocabulares
nascem outras partículas variáveis destroços
o limão fruto do mês
no tópico a penumbra limita o céu
a deus a mesma paragem
passa em liberdade suave textura
a mulher tarde horizontal
de estrutura espessa o género substantiva camada
passa a boca espalhada pelo corpo
guarda todos os traços femininos empurram o limão
permanecem no caminho de frias letras
decifrada a edição é toda ampla pluma
os determinadores pernas no planeta as sedas
deixam de lado os factos contextuais
as luzes estendem-se até a nudez
a existência tão longa produção constrói estrelas
outro corpo
as trevas janelas inquilinos selando juros
amargos dormem tempos opostos
nas paisagens do espaço
afundava-se volumoso coração
no interior do quarto ilimitada natureza a sólida alma
próxima zona virgem a viagem das enguias
lugares de pequenas colinas ou seja:
sentem ondeadas brasas acesas noites também
permanecem transparentes
em forma de pêndulos as fragatas esperam
machucadas pêlos seus remos as algas refúgio:
atravessam os olhos cidades astrais com janelas descem
- velha sombra o basalto - lentas frestas
melhorando muito longe a idade do sol estas casas dos corpos
adoptando formas vermelhas
os pomares voltavam ardendo à teia todo tempo oposto
Poemas extraídos de
A CHAVE NO REPOUSO DA PORTA
Luanda: INIC, 2003.
Colecção A Letra 29
Prêmio Literário António Jacinto, 2003
a câmara elemento da rasura
transmudar o monólogo obscuro emagrece
o tempo contrária plenitude imperfeita cai azeda palavra
há sempre limites para o exílio de textura vertical
penumbra os ângulos auroras de meia superfície
molham a relva tarde os papéis brancos infernos
ainda um corpo imperativa bainha defeito lençol
nascimentos esquecimentos descobrimentos
de rima relvado
poema fumaça da água viva conjunção os escombros
mastigado avesso árvores plana geometria parada
lança rasura a transparência devolve a montanha outra lavra
dimensões ossificadas chaves
a chave treme no repouso da porta a janela ronda
pequeno porto tudo dispersa apesar da ruga inglesa
as persianas estradas paredadas em negrito partes
sufocadas voltam em gestos
confusos sem lâmpadas dormia a criança
na inscrição falava umberto saba vivo a um povo
de mortos possesso certamente
malo conhecido destroço no sul da ilha
perfurado céu metálico mar as raízes desta estalagem
telegráficos beijos espessos numerosos lábios
perdiam as chaves adormece na mesma semana
outra mão à direita unia as pálpebras
ao tecido germe ossificadas chaves sem portes
findos horizontes fibras e folhas
rancor primitivo desde que o trema gaste tudo
apesar de tela arrefecida a edição liquidações
queria dizer um qualquer espanto cansado apesar de
restar mundos irrealizáveis arquipélagos resguarda
logo que atrapalhado expoente entra aberta
cega aurora mundo alternativo tampouca erva
aquela rosa antes que armazenada impressão espalhe
até que desova arquivos hoje quer antecedente pesar
num translúcido extermínio despositada família
nenhum mundo volitivo quer conseqüentes
próteses adequados dias findos sempre que horizontes
Visita à Biblioteca Nacional de Brasília: Abreu Paxe, Antonio Miranda, Paulo César de Carvalho, Frederico Barbosa e Edson Cruz na Praça da Língua Portuguesa, dia 28/03/2010.
DIMENSÃO – REVISTA INTERNACIONAL DE POESIA. ANO XX – No. 30. Editor Bilharino. Capa; Visual de Gabrile -Alfo Bertozzi. Uberaba, Minas Gerais, Brasil: 2000. 200 p. No. 10 787 Uberaba, MG – Brasil. Capa: Visual de Gabriele-Aldo Bertozzi. Editor: Guido Bilharino 200 p. Ex. biblioteca de Antonio Miranda
A BOCA
Na pureza da lama
mesmo que se abra
não alcança
os cristais do vocábulo
a boca
no gargalho da cabaça
Vazia cospe ao mundo
a boca do vocábulo sequiosa
A boca do dia
são areias pisoteadas
nas pétalas da cidade
INSTANTES OBLÍQUOS
A dimensão molda domínio
alarga rios, incertezas, colinas e vales.
do pão ejacula noites de orgia
duende atado faz desfilar discursos vazios
crateras aromáticas gerações de poços
[lendários
os dias todos num peito juntos horizontes
ínfimos instantes oblíquos.
A NOITE I
A cicatriz nocturna
saúda o olhar
da voz
nos jazigos do quintal
anoitece trevas
ao observar o ocaso despontar
órbita diluindo dia indefeso
Beijo as cercanias do quintal
Página publicada em fevereiro de 2008, a partir de um exemplar da obra doada por Aricy Curvello à Biblioteca Nacional de Brasília. |