HAICAI – HAIKAI – HAIKU
PEDRO MACÁRIO
(1935-2009)
nascido em Mangaratiba (RJ) a 5 de abril de 1935, faleceu no dia 12 de setembro de 2009. Desde a infância, foi um apaixonado pela a literatura e pela arte de ler e escrever. Era um leitor assíduo da Bíblia, afirmando: "de todos os livros que já li, a Bíblia é o livro mais bonito".
Foi poeta, jornalista, professor universitário e artista plástico. Citado na Enciclopédia da Literatura Brasileira, no Dicionário de Poetas Contemporâneos e no Dicionário de Pintores Brasileiros; participou de várias antologias, como a Abertura Poética. Relações pública em uma empresa multinacional; também participou de várias exposições de artes plásticas; escreveu vários contos e crônicas, tendo merecido alguns prêmios em concursos literários.
MACÁRIO, Pedro. Seixos. Haicais. Jaboatão, PE: Editora Guararapes EGM, 2015. 34 p. 13x20 cm. ilus. col. Edição limitada, artesanal. “Pedro Macário” Hai Kai Ex. bibl. Antonio Miranda
VER E-BOOK: https://issuu.com/antoniomiranda/docs/pedro_macario_5e817bd9c7206a
VOZES NA PAISAGEM: Antologia de poetas brasileiros contemporâneos I. Org. Waldir Ribeiro do Val. Rio de Janeiro: Ed. Galo Branco, 2005. 140 p. Ex. bibl. de Antonio Miranda
SÍNTESE
I
Os ruídos da paisagem com blocos de pedra.
A janela aberta — lâminas de sol no assoalho.
A avenida, o homem que caminha, a poeira.
II
Estou à procura de mim, dentro de mim.
Prometo, à própria sombra, a relva em luz.
De braços abertos, procuro o abraço.
Viver, enfim, no escuro dos escombros.
Tanto pecado constrói meu caráter pobre.
Em cruz, no jogo, consternado, a terra sujo.
No fim, a caminho do nada, absoluta morte.
Sofrido, mísero, trapo, velho jornal — nada
Deixai que o pranto me humanize e salve.
E queime a crueza animal em mim, no sangue
e na alma, para que eu renasça e, no cimo,
Galvanize o lado pobre, e surja linda imagem
que sonhei contente em pretéritas eras.
Misericórdia, guardião, pecador me aproximo.
III
Um pássaro, mudo, no espaço. O vôo, a curva,
a liberdade. Um homem caminha, entre máquinas,
prédios antigos, ruínas, duas árvores envelhecidas.
VIDA IMPRESSA
A banca de jornais.
A vida gravada.
A vida
na ponta de cada nariz
empinado para a manchete.
Cara.
A mulher da capa.
O tiro que eu não dei.
A bola que eu não comprei.
O amor que eu não amei.
A vida que eu não vivi.
A PEDRA
A pedra é um bicho de barriga cheia.
Solitário, duro, soturno e grave.
Tem mil formas, tamanhos e caras.
E um silêncio pesado que incomoda.
A pedra pode ser áspera como lixa.
Lisa como a água do lago em tarde
calma. Eu diria que ela tem alma:
a pedra é um bicho — vive, respira.
Ela estilhaça depois do arremesso.
Levanta, sustenta, posta uma a uma.
Apruma: uma função normal da pedra.
Ela corta, ela quebra, ela mata, ela
é arma, escultura, sepultura, mesa.
A pedra é bicho doméstico do homem.
*
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Página ampliada e republicada em dezembro de 2021
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