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Poeta Affonso Ávila

 TENDêNCIA (1957)

Por Hilda O. H. Lontra

 

         

Enquanto São Paulo e Rio de Janeiro disputavam entre si a liderança dos movimentos anteriormente expostos, entre 1957 e 1962 surgia e se desenvolvia em Minas Gerais o trabalho de um grupo de intelectuais em torno da Revista Tendência. Visavam à renovação da literatura brasileira, a partir da perspectiva de um nacionalismo crítico, dentro de uma forma inovadora. Segundo Affonso Romano de Sant’Anna (1978: 146), um dos participantes do movimento, eles propugnavam fidelidade à palavra poética e ao verso do poema em sua forma livresca.

          Recuperando a dicotomia anteriormente exposta, o grupo Tendência valorizava o ideal do nacionalismo crítico-estético, preconizando a pesquisa e a descoberta de formas que correspondam à consciência nacional, conforme consta da página 4 do primeiro número de Tendência.

          Em Affonso Ávila (1969), um dos fundadores dessa revista e, talvez, o mais influente participante do grupo, encontram-se as seguintes passagens esclarecedoras sobre o trabalho desenvolvido pelos poetas de Minas, por meio de seus principais representantes:

a) visavam a uma poesia de maior abertura semântica, dentro de um processo comunicativo de rendimento mais imediato*1;

b) pretendiam inovar através de uma linguagem elaborada por uma sensibilidade nova, com recursos novos, que procurasse aproveitar ao máximo, ao lado de outros recursos de que dispõe, os recursos de comunicação visual;

c) manifestavam-se através de uma linguagem breve e persuasiva, o que, entretanto, não implica na impossibilidade de se elaborar, quando o tema assim exige, um poema mais extenso, de estrutura mais complexa (Ávila, 1969: 59-86).

          O grupo Tendência propugnava a fundação de uma expressão literária de autenticidade brasileira. Com essa afirmação, evidencia-se a preocupação social do poeta, a desalienação do escritor e de sua obra, a revisão de valores nacionais e a implantação de padrões críticos novos.

 

          Em 1963, realizou-se em Minas Gerais a Semana Nacional de Poesia de Vanguarda, fundindo harmonicamente os ideais concretistas de São Paulo e os do grupo mineiro. Com esse fato, deu-se um avanço nas pesquisas estéticas, pois, ainda, conforme a avaliação de Affonso Ávila (1969: 78):

 

uma ação conjunta de vários grupos empenhados no mesmo

objetivo só se tomaria viável após lenta evolução dialética de

suas respectivas posições, com maior abertura ora para o plano do engajamento, ora para o plano experimental, até a final confluência numa posição única, global e em verdade criadora.

 

          Com a Semana Nacional de Poesia de Vanguarda, permaneceu a imagem do fazer poético como ato criador, compromissado com o público a que se destina, desafiante dos recursos tecnológicos da era de comunicação de massas, engajado em um contexto histórico específico e adepto de uma função crítico-criativa em âmbito nacional e internacional.

 

          Nas conclusões comunicadas pela Semana, destacam-se os seguintes aspectos:

 

a) a consciência da criação de novas formas e processos necessários para o desenvolvimento e o avanço da poesia brasileira;

 

b) a necessidade da luta por uma linguagem comunicativa, de complexidade variável, divulgada por todos os canais, dirigidas a todas as faixas de público, para que as camadas mais amplas do povo se tornassem cada vez mais conscientes de sua participação social e política;

 

c) a responsabilidade assumida pelo poeta para com sua época, exigindo a utilização da linguagem, não para fixar e consagrar padrões repetitivos, formas e temas já explorados, mas para desencobrir e revelar valores éticos, de reformulação da sociedade, induzindo o leitor a tomar consciência de si mesmo e de sua existência social alienada. E neste sentido que se dá a contribuição do poeta: jogando com as palavras, modo de ser específico da poesia como ato criador, contribuir para a transformação da realidade nacional. 

 

Extraído de:

 

CYNTRÃO, Sylvia Helena, org.  A forma da festa - tropicalismo: a explosão e e seus estilhaços.  Brasília: Editora da Universidade de Brasília: São Paulo: Imprensa Oficial do Estado, 2000.  ilus.  p. 24-26.

 

 

(*1) Quanto à rapidez da comunicabilidade artística e, em consequência, aproximação com o linguajar do povo, vale a pena conferir as palavras de Fernando Gabeira, com referência ao Tropicalismo: Nesse momento, eles também procuraram uma imagem popular. Uma fornia de dizer a população o que eles queriam dizer e que fosse rapidamente inteligível e não passasse por todas essas mediações teóricas que eu estou fazendo aqui. Então encontraram um símbolo que era a banana. (...) O que eles queriam dizer com aquilo? Primeiro, queriam popularizar a ideia do Tropicalismo.

 

 

 

 

 

 
 
 
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