SÓ DEZ POR CENTO É MENTIRA
A DESBIOGRAFIA OFICIAL DE MANOEL DE BARROS
Filme de Pedro Cezar
Longa metragem 2009 Artzanato Eletrõnico,
uma realização Biscoito Fino 2010 em DVD.
O filme de Pedro Cezar sobre o Manoel de Barros é mais do que um documentário! Ele não se limita a entrevistar e a revelar os textos do poeta pantaneiro, de expressar a sua alma profunda —sob o disfarce de uma "desbiografia" —, pois é com imagens que ele conforma a sua criação. Visual impactante buscando a beleza das cores e formas em detalhes de lugares desimportantes, sem pompa mas com circunstância, expressando a sua visão de seu personagem. Extraordinária combinação de cenários minimalistas e textos compactos. Cromatismo exuberante. Chão em vez de céu. Paredes em vez de paisagens. Os fragmentos textuais aparecem isolados, independentes, sem ilustração de fundo, para não contaminar, para que sejam lidos. Nunca a imagem se apresenta como ilustração.
Manoel de Barros seria refratário a entrevistas, mas se revela com naturalidade. Diz que poesia não se explica, mas ele se explica com precisão, ainda que com subterfúgios e circunlóquios... Já se escreveu tanto sobre o "poeta passarinho" (como eu o chamo...) que não é hora disso... Basta dizer que ele é o Guimarães Rosa do Pantanal, de caderninho na mão, anotando falares e visões particulares de seu mundo pequeno, para ampliá-lo em seus aforismos poéticos, sem rimas, sem formas canônicas de poesia. Enquanto Mario Quintana faz um confidencialismo sutil e irônico, Manoel de Barros escapa da autobiografia mesmo quando tira do baú a própria infância... Enquanto Millôr Fernandes genializa suas invectivas pessimistas e críticas, Manoel de Barros foge do costumbrismo e de qualquer forma descritiva para coisificar o impondrável e o irretratável. E nele se inspiram artistas plásticos, dramatizadores de textos, cineastas de descobrimentos e revelações como é o caso de Paulo Cezar. Não é à toa que o filme ganhou prêmios em sua categoria e deve ser visto por quem gosta de poesia, mas também do melhor cinema, porque o trabalho dele "é bonito, é bonito, e é bonito"!!!
ANTONIO MIRANDA, 6/1/11
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