ROTEIRO DA POESIA BRASILEIRA
ANOS 90
Seleção e prefácio PAULO FERRAZ
São Paulo: Global, 2011. 226 p.
ISBN 978-85-260-1156-4
Resenha, por Antonio Miranda
A Global, dirigida por nosso amigo Luiz Alves Júnior, vem publicando livros de poesia, notadamente nas duas séries mais prestigiosas de seu catálogo editorial: MELHORES POEMAS, com muitos títulos, alguns deles reeditados; e ROTEIRO DA POESIA BRASILEIRA, ambas sob a direção de Edla van Steen.
ROTEIRO DA POESIA BRASILEIRA foi projetada para 15 volumes, que vão das Raízes, do Arcadismo, Romantismo, Parnasianismo e Simbolismo, passando pelas fases do Pré-Modernismo e Modernismo, e culminando com os volumes dedicados aos anos 30, 40, 50, 60, 70, 80, 90 e 2000. Cada volume limitado a umas duzentas e poucas páginas, o que exige uma seleção (supostamente) rigorosa quanto ao número de poetas e poemas, sendo cada um sob a responsabilidade de um antologista e prefaciador (na sequencia): Ivan Teixeira, Domício Proença Filho, Antonio Carlos Secchin, Sânzio de Azevedo, Lauro Junkes, Alexei Bueno, Walnice Nogueira Galvão, Ivan Junqueira, Luciano Rosa, André Seffrin, Pedro Lyra, Afonso Rodirgues Neto, Ricardo Vieira Lima, Paulo Ferraz e Marco Lucchesi. As entregas vêm sendo a intervalos irregulares, não necessariamente na sequência, sendo a última entrega o volume dos “Anos 90”, anunciando que o dos “Anos 60” encontra-se no prelo.
Uma excelente ideia, que oferece um panorama completo de nossa poesia desde as suas origens até a atualidade. Não sabemos se continuarão com as décadas do século 21.
Paulo Ferraz apresenta seus “Anos 90” numa seleção que, como é previsível numa empreitada deste tipo, num país de dimensões continentais, deve causar no público certa perplexidade por não encontrar nomes expressivos da cena poética nacional enquanto apresenta nomes de menor reconhecibilidade, para não falarmos de reconhecimento pela crítica. A crítica anda escassa nos tempos que vivemos e não existe ainda um distanciamento adequado para uma avaliação da produção do período.
Mas é isso mesmo que a gente espera de um antologista: que ele apresente e se responsabilize por sua seleção. A gente espera que ele seja um árbitro, mas que não seja arbitrário. Arbitrário sempre será, no melhor sentido do termo, mas não necessariamente no sentido de privilegiar relações pessoais, embora isso faça parte do jogo, assim como gosto, preferências, simpatias. Manuel Bandeira, que foi um profissional da área, defendia seu direito de escolha pessoal e, tudo indica, era exatamente sua opinião que era aceita e seguida pelos compradores de suas antologias.
O prefácio de Paulo Ferraz tenta sair do subjetivismo e ensaia um estudo do momento histórico e do movimento cultural e editorial da época, de forma exemplar. Fica claro que havia uma produção acadêmica avançada sobre a nossa poesia e que os poetas circulavam em meio a poetas de gerações anteriores ( já incluídos nas edições anteriores do ”Roteiro da Poesia Brasileira”) e dos estreantes. A tal “confluência de gerações”. Mas fica a questão: como definir quais poetas representam uma década determinada... Tarefa ainda complexa considerando o esmaecimento dos ismos e das ortodoxias estéticas. Mas Ferraz ateve-se, sobretudo, às publicações e grupos ativos, sobretudo no sudeste do Brasil, mas com forte repercussão e iinfuência em todo o país; dos quais participavam poetas que emigraram de seus estados para a região ou que mantinham contatos e colaboração em tais dimensões de produção e divulgação literárias. Cita o caso da coleção Claro Enigma, “cuja linha editorial já apontava para a variedade de dicções e não ara a afirmação de apenas uma”. Melhor dizendo:
Os 45 poetas (nascidos entre 1944 e 1979) que compõem este roteiro têm trajetórias e referências históricas/literárias distintas: enquanto alguns participaram desse debate no calor da hora — tomando partido ao colaborar em revistas ou aluando em outras áreas, como na música, nas artes plásticas, na imprensa ou na academia -, outros só começaram a escrever nos derradeiros anos da década, quando já estavam sólidos os fundamentos democráticos e os conceitos de pluralidade e diversidade, assim, já integrados ao universo da cultura de massa e suas mitologias, cujas influências positivas não são nada desprezíveis, fiquemos com as referências à pop art e ao rock, e às inovações tecnológicas, tais como a internet, ambiente no qual mais e mais as constantes tempo e espaço estão
próximas de ser anuladas, tornando-se um verdadeiro museu de tudo. Contudo, essa heterogeneidade de vozes e faixas etárias, que implica convivência de estilos, não se reverte necessariamente numa calmaria intelectual, ao contrário, há muito atrito, dissonância e ruído, que devidamente investigados podem se mostrar um profícuo confronto de obras e opiniões. (p. 15)
Os poetas incluídos são os seguintes:
ANOS 90
Alberto Martins — Frederico Barbosa — Renato Rezende — Augusto
Massi - Carlito Azevedo - Claudia Roquette-Pinto - Josely Vianna
Baptista — Miguel Sanches Neto — Vicente Cechelero — Cláudio Daniel - Ricardo Aleixo — Alberto Pucheu — Caio Meira — Majela Colares —
Nuno Ramos — Ademir Assunção — Cláudia Ahimsa — Maria Lúcia
Dal Farra - Rodrigo Garcia Lopes - Lucinda Persona - Francisco
Bosco — António Cícero — António Moura — Fábio Weintraub — Sérgio
Alcides — Ana Elisa Ribeiro — Aníbal Cristobo — Marco Lucchesi —
Maurício Arruda Mendonça — Verónica de Aragâo — Dirceu Villa —
Fabrício Carpinejar — Fabiano Calixto — Joca Reiners Terron — André
Luiz Pinto — Marcos Siscar — Mariana lanelli - Manas Mariani - Paula Glenadel — Paulo Ferraz — Prisca Agustoni — Rosana Piccolo — Sérgio Cohn - Simone Brames - Tarso de Melo.
Pois é, poesia, diria Décio Pignatari. Retorno ao verso depois da superação do concretismo mais ortodoxo, reconquista da democracia, lirismo, um fim de século sem grandes embates ideológicos, memorialismo, uma reconstrução de costumes depois dos questionamentos dos marginais, do urbano à periferia. De tudo um pouco, mas nem tanto. Há que buscar outras antologias e estantes para conhecer a poesia da época, mas o que Paulo Ferraz apresenta é digno de atenção e crédito.
Brasília, agosto de 2011.
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