OTRA LINEA DE FUEGO - QUINCE POETAS BRASILEÑAS ULTRACONTEMPORÁNEAS
Heloisa Buarque de Hollanda é o nome mais conhecido no Brasil por sua atuação como pesquisadora e divulgadora da poesia contemporânea brasileira. Suas antologias críticas e rigorosamente orientadoras das vanguardas dos movimentos marginais e de busca de novas linguagens, sobretudo durante e depois da repressão militar. Marginais aos cânones, marginais à ordem imposta. Vozes de insurrreição, de ruptura, de contestação ou, vistas (ou ouvidas) de outro ângulo, seriam desbravadoras de novos caminhos, experimentadoras de novas linguagens e sobretudo de novos valores e posições ideológicas e estéticas.
Por detrás da obra como antologista, Heloisa foi sempre uma pregadora e conquistadora de público para um segmento poético que sofria o preconceito do establishment militar e político, mas também da crítica e dos especialistas em literatura. "26 Poetas Hoje" (1a.edição em 1976, 2a. edição em 1998) é o marco dessa trajetória. "Esses poetas - uma antologia dos anos 90" (1998) atualiza a lista de autores na mesma linha de inconformidade, não apenas atitudinal mas sobretudo de trato com os postulados estéticos e temáticos.
Agora Heloisa Buarque de Hollanda, depois de ter participado da célebre edição de "Puentes/Pontes" associou-se a Teresa Arijón, poeta e dramaturga espanhola, para brindar-nos uma coletânea de mulheres poetas em castelhano. "OTRA LÍNEA DE FUEGO - quince poetas brasileñas ultracontemporáneas" (traducción de Teresa Arijón), edição bilingue da Maremoto, está agora à venda nas livrarias espanholas). Edição primorosa sob o auspícios do Servicio de Publicaciones do Centro de Edicones de la Diputación de Málaga. Uma bela e valiosa iniciativa. E, como vaticinava o mestre Manuel Bandeira, nosso maior antologista, Heloisa é arbitrária, mas de arbítrio, selecionando as autores que efetivamente, a seu juizo e conhecimento, representam nossa melhor poesia. Em três seções — Verde, Azul, Amarillo — estão dispostas as autoras:
Verde: Angela Melim, Angélica Freitas, Cláudia Roquete-Pinto, Juliana Krapp, Lu Menezes; Azul: Alice Sant´Anna, Ana Guadalupe, Bruna Beber, Daniela Storto, Marilia Garcia e Amarillo: Alice Ruiz, Ana Cristina César, Camila do Valle, Izabela Teixeira. Muitas delas conhecidas do grande público brasileira, outras mais restritas aos especialistas e habitués de revistas e círculos literários.
Heloisa deixa bem claro, de partida, que poesia feminina é um rótulo "tácitamente excluyente", fora de cogitação. Mas ressalta que existem, sim, estratégias e manobras "feministas" de ocupação de território, de conquista de um espaço para a poesia produzida por mulheres. "Pasaron de la lucha por la expresión a la lucha por el poder interpretativo". "Otra linea de fuego", emblematicamente, pretende revelar criadoras de duas gerações mais recentes, a primeira daquelas que lutaram pela conquista do espaço e a segunda, atualíssima, as autoras que hoje ocupam posições de relevância. Vale a pena conferir.
Nossa seção de poesia brasileira traduzida à língua castelhana já inclui muitas das autoras da antologia. Escolhemos alguns poemas de algumas poetas da antologia, por causa das restrições draconianas impostas pelas leis do direito autoral vigentes em nossos países (*). Iremos incluindo aos poucos, em páginas próprias, os textos das poetas "inéditas" em nosso Portal de Poesia Iberoamericana. Mas nada substitui a aquisição da obra (ISBN 978-84-7785-805-8). Algumas de nossas livrarias fazem importações valendo-se dos baixos valores de tributação que goza o livro em nossa lei.
Trata-se de uma obra que merece o nosso entusiasmo e que deve circular entre nós também, além de servir para a divulgação da poesia brasileira no mundo hispânico.
Antonio Miranda, dezembro 2010
(*) por sorte, a nossa lei vai entrar agora em discussão, visando sua atualização, para considerar o 'fair use" (como já existe na legislação norte-americana, por exemplo, em que é flexibilizado a divulgação, como no nosso caso, sem fins lucrativos e com motivo estritamente cultural e didático. |