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RESENHA DO LIVRO

  

MANDACARU, UM CANTO NORDESTINO DE RACHEL DE QUEIROZ
 
por Antonio Miranda


         Rachel de Queiroz, poeta?! Sim. Ela foi das primeiras no "norte" do Brasil, em 1928, a aderir ao Modernismo de 22. A autora de "O Quinze", escrito aos 20 anos de idade, também foi precoce na poesia, embora relutasse em considerar-se poeta... "Mandacaru"  é de 1928, repetimos,  antes de seu romance de estreia, aos 18 anos de idade.  Dez poemas telúricos, sobre o drama nordestino, numa linguagem moderna no sentido de ser prosística, despojada, sem os contorcionismos  verbais e de franca adjetivação de seus contemporâneos.  Sem aquela retórica pomposa de seus conterrâneos. No afã de abrasileirar o Brasil, como era o clamor de Mario de Andrade.

         Embora organizados como livro, a autora guardou os originais e apenas fragmentos foram divulgados pela imprensa, onde era muito ativa como colunista. Material compilado e preservado por sua amiga Alba Frota, a quem devemos a revelação desta obra com a poesia da grande escritora cearense e brasileira.

         Devemos louvar a iniciativa do Instituto Moreira Salles, detentor de um arquivo importante da autora, de publicar o até aqui inédito "Mandacaru" nas celebrações do centenário de nascimento (1910) da nossa grande romancista. Que também era poeta, na linha de seu amigo Raul Bopp, de trazer as raízes de sua terra para a poesia.  Bopp, gaúcho, nos brindou um canto amazônico ("Cobra Norato"), enquanto Rachel fala da seca, do sol abrasante e chega até ao longínquo Acre, terra conquistada por cearenses e nordestinos para o Brasil. Onde expressa um português bem brasileiro, coloquial, próximo da realidade de nosso povo, que foi buscar a borracha para "enricar" -se, colhendo expressões situadas no tempo e no espaço daquela saga.

A seguir o poema "O Acre" com o convite para que leiam o livro:


De
Rachel de Queiroz
MANDACARU
Org. Elvia Bezerra. 
São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2010.
159 p. ilus.  ISBN  978-85-8607-59-9


O Acre

 

         Na ambição de encontrar mais borracha e mais ganho

                   de enricar mais depressa,

             a gente deixou atrás Manaus e o Rio Negro...

 

                   Foi-se trepando pela correnteza
                           na procura ansiosa do ouro elástico,

                   ver se cumpria o eterno fado dos êxodos:

         a fuga, a luta, o ganho e - coroando tudo -

                   a volta triunfante e endinheirada.

 

                   Lá acima, muito acima

         — já longe dos rios das icamiabas guerreiras —,

                   tinha uma terra salubre,

         onde a borracha corria livre nas veias da seringueira

                   sem saber de tigela e machadinha.

 

                   Os cearenses, aí, botaram a mochila no chão

                   e ficaram trabalhando.

 

         Depois, eles, que chegaram sozinhos, desamparados,

                   acharam umas índias bonitas

              que chamavam todo o mundo de usted...

         E elas trataram deles, quando veio o beribéri,

         e lhes deram muitos filhos entroncados e viçosos,

         que enchiam os barracões de algazarra e de alegria.

 

         E eles foram querendo bem àquela terra,

                   tão rica, tão sem dono,

         que dava tanto dinheiro e tanta felicidade...

 

                   Mas lá vem o ditado

         "Tudo no mundo se acaba,

                                     tudo no mundo tem fim".. .

                  E um belo dia

                            apareceu o dono...

 

         "—Vá-se embora, cearense, vá-se embora!

         Você veio desbravar este buraco de mundo

                   pra meu proveito e meu gozo!...

         A borracha, que lhe deve tanta noite mal dormida,

                   sou eu que quero vender!

 

                  Eu nunca abri estrada na seringa

          e agora vou andar nas que você abriu...

                   A barraca que você levantou quando brabo

         — ai! A tristeza do brabo que soluça de saudade, olhando o rio                                                                                                      correr! -

                   pois também sua barraca/ filha da sua saudade,

                   eu quero tomar pra mim...

 

                   Eu nunca fazia nada,

         porque tinha medo dos bichos que rodeiam os barracões;

                   você aceirou em redor,

                   demarcou os seringais,

         e agora os bichos se amoitam com receio do seu rifle,

                   com medo do seu terçado.

 

         Vá! Volte pra sua terra! Volta pior do que veio...

         numa proa de navio, tão magro, tão empambado!

                   Chegando lá, que é que acha?

            A ramada do roçado, já queimaram nas coivaras;

                   sua barraca de taipa, o tempo já derrubou...

         E sua criaçãozinha? Mas você não comeu toda,

                            quando o legume faltou?...

 

         Lá mesmo na sua terra, quem se lembra de você?

         " — Aquele foi embarcado... morreu ou ficou por lá.. "

         Vá! Só leve a sezão que apanhou por aqui

                   e a saudade de sua cunhã acreana,

                            dos seus curumins caboclos,

                   que eu também tomo pra mim..."

 

                   A resposta, qual seria?

                            Insolente e audacioso,

                            mostrou-lhe a ponta da língua,

                   mostrou-lhe a ponta da faca...

 

                   E, na luta pela terra,

                   o cearense fez mais um pouco

                   que tudo aquilo que os livros contam

                   na grande lista dos heroísmos...

 

                   Ah! O horror das trincheiras parecidas

         a sepulturas encarrilhadas num zigue-zague macabro!...

                          Nos matagais doentios, onde as maleitas têm casa

                              e devoram mais vidas do que as balas,

               nos combates lá no rio, na casca frágil das montarias,

         e que sempre acabavam em festim de jacarés...

 

                   Pobre dono escorraçado! Chorava de fazer dó!...

 

                 E o barão do Rio Branco teve pena

                   e deu-lhe, pra consolo, um bocado de libras esterlinas...

                            e ele agarrou no dinheiro

                                      e foi brincar de cara ou coroa...

 

 

Leia Poemas de Rachel de Queiroz aqui no Poetal de Poesia Iberoamericana>>>

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