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FAZ SENTIDO A INOVAÇÃO NA POESIA?

por Antonio Miranda

 

"Bobagem pensar que uma determinada forma poética se cristalizou, no interior da Galáxia de Gutenberg, para durar por todos os tempos.  Esse tipo de fantasia canônica não resiste ao menor exame histórico, em qualquer terreno artístico."  (...) "Mais ingênuo é pensar que a forma — que parte da produção poética assumiu, em tempos recentes, foi premiada com o estatuto da eternidade por alguma decreto divino."ANTONIO  RISÉRIO


Pois é. Poesia, diria Décio Pignatari, um dos inovadores de nossa poesia.

         Talvez não estejamos mais falando de um tipo específico de poesia.           Muito menos de um "ismo" na cadeia evolutiva (sic) da poesia.

         As vanguardas do século passado - notadamente o futurismo e o dadaismo - pretenderam fazer tabula rasa da poesia precedente. Marinetti e Tristan Tzara incendiaram a cena poética pregando uma revolução. Maiakovski se instituiu como demolidor antes de proclamar-se criador. Os modernistas brasileiros rechaçaram o parnasianismo e o que intitularam o vírus do sonetococcus na poesia tradicional... Sempre acontecem os movimentos restauradores, como a Geração 45, depois da hecatombe... que, como se sabe, acontecia apenas na ponta do iceberg pois a maioria dos poetas continuaram suas trajetórias desde diferentes perspectivas estéticas... Enquanto os irmãos Campos clamavam pela superação do verso e do euismo na poética burguesa, continuavam os leitores apaixonados pela pregação neoromântica de J. G. de Araujo Jorge. Coetaneamente. Agora Edgar Morin nos pede uma transformação baseada na tradição.

         Na presente etapa em que os ismos saíram da moda, em que os poetas já não lançam manifestos, que tipos de estratégias estão em voga?

         Embora os blogues lancem milhares de poemas de todo tipo — muitos seguindo os passos das letras da MPB, os discursos apocalípticos ou beligerantes dos rapeiros, dos versos acaramelados da resistente turma do eterno romantismo — existem, sim, grupos entrincheirados criando loggias e ecclesias poéticas. Institucionalizam a poesia de grupo de forma pretensamente hegemônica, como acontecia com os movimentos nos séculos passados.

         Qual a mais evidente das agrupações em voga? Os neobarrocos, poetas de invenção? Os e-poetas, infopoetas ou poetas visuais que hibridizam a poesia na amálgama com a tecnologia? Os poema-performers? O videopoematas?  Sem falar que continuamos a ver os repentistas, os cordelistas, os sonetistas, os declamadores de poesia do passado, e os que escrevem como se vivessem em tempos extintos (sem ironia, pois alguns conseguem ser bons, além da imitação...).

         Existem algumas hostes poéticas fechadas, cujo hermetismo às vezes encobre a incapacidade de comunicação. Alguns críticos não criticam, fazem loas em circunlóquio. Peças laudatórias que são criações literárias em cima de criações literárias, numa linguagem de seita religiosa. Questão de fé. Ou dogma. Ou de teorias literárias cujos adeptos usam-nas para justificar-se antes de qualquer leitura de seus textos... A maioria de acadêmicos pós-graduados que exercitam o verso como efeito-demonstração de suas teorias, mas cujos poemas não sobrevivem, o mais das vezes, a uma leitura isolada.

         Mas não é isso que o título do presente Editorial de fim de ano (2010) pretende perguntar e, em certa medida, responder?...

         Inovação é uma palavra complexa, polissêmica. A forma mais simples seria entendê-la como um processo de agregação de valor na cadeia produtiva. Quando o poeta experimenta novas formas de criação para ampliar sua capacidade de expressão. Geralmente provocado pela concorrência... Ou, mais ingenuamente, por mimese, espontaneamente. Faz parte do aprendizado, qualquer experimentação. Às vezes induzida através de oficinas e cursos de produção poética, antes raros entre nós (os poetas já nasciam "prontos", alheios...), agora cada vez mais frequentes, a exemplo de outros países.

         Como acontece em qualquer setor produtivo, a poesia requer expertise, insumos, massa crítica, infraestrutura. Um ambiente avançado — como já acontece na música, por sua produção massiva — favorece o estabelecimento de padrões de qualidade, perceptíveis por muitos e, nos casos extremos, pelos críticos (que já não têm espaço nos jornais, mas estão reaparecendo nas revistas eletrônicas ou em blogues pessoais e de amigos...). Exige um reconhecimento por parte do criador e de seu mercado consumidor (existe, sim, um mercado para a poesia!).  Mesmo num cenário tão diversificado, o público busca parâmetros, modelos, exemplos.

         Se seguirmos a lógica dos programas de P&D, de pesquisa e desenvolvimento, a poesia, como atividade produtiva, tenta também renovar-se, adaptar-se aos novos paradigmas, incorporar as novas tecnologias de produção, ouvir o consumidor. Isso deve soar horripilante para muitos!!! Mas é assim que funciona, tanto para os que escrevem para minorias quanto para os que sonham com a popularização ao nível das massas. Why not? 

         No fundo, existem os dois extremos: os que avançam pelo research front, pela avant garde, pelo ultraismo formalista para os iniciados, e existem os que apenas avançam nos procedimentos mais corriqueiros, para saciar um mercado menos exigente mas, nem por isso, indigno de atenção. Uns estão antenados com as experimentações em países líderes, outros inspiram-se nas amostras grátis que chegam pela internet. Uns dependem de pesquisas avançadas e leitores muito exigentes, os outros crescem perseguindo públicos bem maiores, ouvindo as demandas e avançando pelas beiradas, incorporando novidades de forma mais sutil. Como acontece com a música mais popular que parece sempre igual, mesmo quando tenha algo de novo... Se mudar muito, fica irreconhecível, ninguém compra.

         Em resumo, esse processo de inovação se dá consciente ou inconsciente, a menos que o autor esteja alienado ou — o que é difícil ou impossível — resiste a qualquer "contaminação", e escreve para si mesmo ou para um círculo muito fechado. Impossível criar no vácuo, difícil produzir fora das correntes de seu tempo, salvo nas exceções dos gênios e dos idiotas.

         É apenas uma provocação, início de conversa. Alvíssaras celebrando o Ano Novo.

 

Brasília, 25 de dezembro de 2010

 

 PRIMEIRAS REAÇÕES DOS INTERNAUTAS....

 

"Olá Miranda!

Tive que ler o texto mais duas vezes pegar o sentido da inovação na poesia, ISTO FAZ SENTIDO para levar "0  conceito" para outra fronteira!
 "  Benedito Medeiros Neto-  Sat, 25 Dec 2010 17:22:52 -0200

em resposta ao Edital minutos depois de distribuído... Ótimo:

aqui vai a resposta, sem pretender responder integralmente...


Feliz Natal, meu caro  Vai para o Polo Norte numa hora dessas!!!

De fato, eu só levantei a questão... mas está subrepticiamente colocado que a inovação se dá ostensivamente ou ingenuamente... Você deve estar buscando o mesmo sentido de um empreendedor no chão da fábrica... O poeta entende que ele inova lendo, imitando, seguindo a concorrência. Há uma pesquisa de um russo que mostra o seguinte: mais de 97% das inovações no setor produtivo acontecem por introdução de coisas simples, seguindo soluções que vão melhorando o produto ou o serviço, numa escala individual. Menos de 3% se dá pela pesquisa de alto nível, pelas grandes teorias... Na poesia e na música, se dá por observação, emulação e, acaso, por criatividade , ouvindo e afinando o ouvido com o público... Coisa simples. A poesia não é feita apenas pelos grandes poetas... Milhares de poetas anônimos ajudam a difundir e a criar público para a poesia. Nos limites de cada um.       Não quis ser óbvio, quis provocar..."  Antonio Miranda 17:40hs, 25/12/2010

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Se a POESIA for uma linguagem, isto é inexorável...ou, a via muda, mesmo se não andamos por ela. ROBSON ARAUJO, 30/12/2010

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Acredito que em qualquer estilo,como você bem enfocou,em qualquer veículo,em qualquer ferramenta inovadora, a poesia deve transgredir, deve movimentar-se para não morrer. Não podemos, nem devemos deixar a poesia apenas para os meios acadêmicos.Temos de transformá-la em instrumento de massa, de conscientização de pensares,seja à moda antiga, seja nos caminhos que nos levam às revoluções literárias, quase inexistentes.  Cezar Ubaldo.  -  31/12/2010

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Meu caro Antonio,


é salutar o término do ano com uma provocação. A sua é de incrível felicidade. Suas colocações detonam cristalizações do "gênero" poesia, põem em xeque as igrejinhas teóricas da academídia, incomodam o status quo dos passadiços e conservadores, evocam a tradição como um desafio e sintetizam o que chamou de "tipos de estratégias em voga". Brilhante!

 

Se v. tem lido o que publico no Cronópios e Germina, sobretudo, verificará que uma das questões emblemáticas de minha luterária tem sido justamente defender a poesia em si, desde que comova, que fale dentro, que provoque alguma mudança, que seja diálogo, enfim aquilo que está em meu livro Footuro, publicado na íntegra pela Germina.

O que está em jogo em suas colocações ou inferências inteligentes é a questão da recepção, de que Hans Jauss é mestre: sobejam poetas, mas faltam leitores de poesia. Muito recentemente, prefaciando o livro Flash, de Oscar Kellner Neto, reitero esse posicionamento: fiz uma pesquisa e constatei que o povo gosta mesmo de poesia, desde que a entenda, que a identifique em seu discernimento sensorial, quando ela não é um estranhamento que supera seu conhecimento zero de teoria. A partir das vanguardas históricas houve o dissídio entre povo e poesia, porque faltou pedagogia poética para o novo. Não importa os meios, as tecnologias da linguagem. Importa, sim, ser lido, o poema ser identificado como poema.

 

Por isso sua reflexão mexe e tem razão de ser. O grande desafio agora é este: como inovar? Indo em frente ou assumindo um recuo estratégico? Voltar à palavra em ou tornar a poesia um objeto? Celebrar ou derruir? Na "cadeia produtiva" da poesia, que valor deve ser agregado? Mais: a poesia carece mesmo de inovação para ser poesia?

Abraço fraternal. O melhor do máximo. Sempre. Seu amigo e admirador

 

MÁRCIO ALMEIDA -  Minas Gerais, Brasil, 1 janeiro 2011

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Ilustre professor,

 

Não restam dúvidas. Em todos os tempos em que a literatura passou a existir no Brasil é que a polêmica se instalou.

E, a partir dos estudiosos e críticos, ficamos sabendo o que realmente os nossos escritores criavam. De Gregório de Matos até Ledo Ivo, passando pelos experimentalistas a nossa poesia (já que se fala sobre ela) ganhou uma dimensão acentuada, enquanto criação.

O mais difícil, hoje, é revelar o que se produz, uma vez que o nosso parque editorial contempla apenas o que é "vendável", o que tem "mercado",

No que toca aos experimentalismos, cabe dizer que - a partir do Modernismo - Concretismo, Neoconcretismo, Poema-práxis, Poema/Processo, ou Poema Visual, foram e são experimentos cujos registros permanecem. 

Não acredito que em todo esse tempo, ou seja, 60 anos de experimentos, algum poeta teve a pretensão de superar o que os poetas anteriores realizaram e criaram, mesmo porque não há como apagar a história literária de nossos autores anterior ao Modernismo.

Penso, como o professor o faz, que é mesmo através do debate que vamos avaliar a poesia e ou o poema (no caso dos visuais) dos autores atuais.

O que podemos dizer é que, neste mundo atual em que a velocidade da informação se processa da forma como nós estamos presenciando, a glória das obras literárias torna  efêmera, caso não se encontre qualidade nas mesmas.

De toda e qualquer maneira, vale a provocação e que se instaure o debate, pois é algo que falta em nosso meio.

 

Hugo Pontes www.poemavisual.com.br

 

 

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 Caro Antônio Miranda,

Em resposta à sua brilhante provocação...
Creio que tanto faz, inovar ou não, contanto que a palavra chegue e se faça emoção.
É para isso que nós escrevemos, não é mesmo?
É bom que a democratização tenha chegado ,também, ao fazer poético,pois, poesia é vida 
e fazemos parte de um mundo extremamente complexo. Acho que as diversas formas de expressão  que povoam os tempos atuais, não são nada mais que a eterna busca do poeta em compreender o mundo e a si mesmo.
Um grande abraço, desejando-lhe também um belíssimo 2011.
Mirian Pinho  - 4/1/11
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Amigo Antonio Miranda, muito bom começar o ano lendo e pensando sobre poesia, esse nosso pão diário. 

Muito importantes as questões levantadas por você, principalmente, quando, nas entrelinhas, pergunta aos poetas sobre o que queremos fazer com nossa poesia? 

A mim, me parece óbvio, somente a pesquisa, o estudo e o risco podem modificar, paulatinamente, sem pressa, uma obra poética. Essas três características podem formar, por si, uma expressão linguística (ou de linguagem?), que podem transformar - para melhor - a poesia de qualquer poeta. Pesquisar novas linguagens (tecnológicas, why not?), estudar e ler os bons escritores (clássicos, sempre, why not?), e não ter medo de se arriscar em buscar novos caminhos para os seus já cansados trilhos -independentemente de possíveis aplausos ou não - são próváveis soluções para a re-novação de um texto. Existe, porém, nesse empenho, um obstáculo possível: até onde tais inform ações e tentativas de aprimoramento podem levar um poeta a perder a sua voz, no que ela tem de mais íntimo e pessoal? Aí está o cerne da questão: todo caminhar tem seus próprios passos, toda rua tem seus próprios caminhos, todo o mar tem suas próprias ondas. Percorrer e nadar em novos tempos sem perder o próprio movimento é a sabedoria da invenção. Daí, que as raízes de cada um são fundamentais nesse processo. Não esquecê-las, mas semeá-las com um novo produto, sem que a árvore original morra. 

No mais, meu caro amigo, quando o poema chega ao outro já cumpriu sua função (eta palavrinha, né?). É quando ele se basta, quando tudo vira supérfluo (inclusive o poeta), é quando a corda do universo toca o ar e tudo vira beleza e harmonia. 

Por outro lado, olhando a literatura que se utiliza da internet e de outros meios tecnológicos de comunicação, o que precisamos responder é se esses poetas "futuristas", tecnocratas e pósp óspósmodernos, que tão bem sabem usar dessas maquinarias, se eles produzem uma poesia diferente das gerações que o antecederam. Creio que, com raríssimas exceções- a resposta será negativa. 

A grande verdade, Antonio, como respondi numa entrevista ao Ronaldo Ferrito, "a "nova" poesia brasileira está lotada de Cabrais, Drummonds, Manueis de Barros, Leminskis... O que não implica em que não possa ser boa - só não é "nova". E, ainda na mesma entrevista: "O que importa mesmo é que os poetas nunca percam seu espírito de liberdade e independência. O resto é grade, algema."

Bom ano novo pra você, meu amigo. E parabéns por esse "incentivo" poético!

Abraços fraternos do Tanussi Cardoso    
Prestigie meu blog. Ficarei muito feliz com seu comentário.

http://tanussicardosopoetaetc.blogspot.com/

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Prezado Antono Miranda

Gosto sempre de ler seus textos. São lúcidos e demonstram absoluto domínio do assunto explorado.
De minha parte, poeta menor, sigo os trámites da poesia que consegue emocionar quem me leia.
Continue a nos dar estas aulas analiticas de um tema que me parece dificil de ser explorado.
Feliz 2011
Abraços,
Yeda Prates Bernis - Goiânia, Goiás, 7/01/2001

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QUESTÃO DE LÓGICA
 
Escrever difícil é simples.
Difícil é escrever simples.
 
Rogério Salgado - Belo Horizonte, Minas Gerais, 10/01/2011
(in "Um quarto de ofício" Arte VideVerso-2000)

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Caro Antonio Miranda, obrigado pelo envio do texto simples e preciso. Numa saraivada de palavras necessárias você perfurou esse fundo de pano pálido do momento atual da produção de poesia e de suas multiplas tendências, quase sempre desnorteadas. Gostei das implicações de sentido amplo de suas observações.
 
Um abraço.
Edmar Guimarães - 10/01/2011



 

 

 
 
 
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