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A LEITURA CONSUMINDO A VIDA

Não há mais tempo para ler os grandes livros da Humanidade. Talvez nem valha a pena. Livros em demasia, em excesso, repetitivos.

É lógico que existem livros imprescindíveis, verdadeiras obras-primas. Mas até os clássicos, até mesmo os livros sagrados, até os códigos dos saberes mais essenciais, é possível viver sem eles. Dizem que São Francisco de Assis chegou a aborrecer-se de todas as obras profanas e mesmo das sagradas escrituras. Teria proclamado a renúncia total ao conhecimento registrado, pregando a comunhão absoluta com a natureza. Nada de juizes, de bispos, de professores. Falar diretamente com os pássaros, dialogar com os lobos, ouvir os ventos e as plantas, fontes da vida.

Minha biblioteca está repleta de livros. Li a maioria deles, alguns nem cheguei a desvendá-los, raramente foi possível relê-los. Queria ter mais tempo para a leitura, como queria mais tempo para os meus amigos, como queria ainda mais tempo para as minhas plantas - mananciais inesgotáveis de prazer.

Ultimamente, tenho aprendido mais dos ignorantes, dos incrédulos, dos ímpios do que dos acadêmicos, dos jornalistas, dos escritores profissionais e dos conferencistas. Ponho-me a ouvir as pessoas comuns nas paradas de ônibus, nas filas dos bancos, nas reuniões familiares e os caseiros de minha chácara.

Não sei até que ponto a gente escreve ou reescreve o que já leu, em que medida a gente cria ou reproduz o que ouviu mas devemos supor que o ato de escrever pressupõe algum nível de originalidade, de ineditismo, tanto na forma quanto no conteúdo.

Gastei muitas horas para ler a Montanha Mágica e mais ainda para enfrentar o Ulyssis moderno. Grandes livros. Thomas Mann e James Joyce tomaram o tempo de muita gente. Imaginemos o tempo gasto, por milhares de leitores, para a leitura de A la recherche du temp perdue... Vidas inteiras! Que bela e fina ironia, a de Proust... Recuperando o tempo - gastando tempo - pela leitura...

Mas, no mundo da pós-modernidade em que vivemos, nos tempos de globalização e de sociedade da informação e do conhecimento, como abrir mão da leitura, sem transformar-se num paria, num marginal, num alienado? Não falamos mais de leitura, mas de leituras... Leituras de textos, de imagens, de sentidos...

Eu mesmo orientei uma tese de doutorado, na Universidade de Brasília - da hoje doutora Elmira Simeão, que colabora comigo nesta Página - sobre estas questões, particularmente sobre o fenômeno da Comunicação Extensiva que a Web propiciou. Saímos daquele conceito tradicional de leitura (na Comunicação Intensiva) que presumivelmente nos levava à especialização, às profundidades de um tema, numa exaustiva análise vertical de uma fonte - um livro, uma tese, um estudo específico - para entrar numa exploração mais horizontal, mais superficial, mais generalista através de visitas a sítios na Internet, copiando de lá para cá, compondo textos que nem lemos integralmente... É o fenômeno "control c" x "control v" - que um outro orientando meu está estudando no mestrado. Sinais dos tempos.

Parece que a cultura livresca está em declínio ou virou uma prática esotérica para os iniciados...

Não vou dar uma de saudosista nem cair na tolice de declarar guerra ao computador. Cada tempo tem suas peculiaridades, com vantagens e desvantagens. Vou preferir concluir esta mensagem de início de ano (2005) com a sabedoria de Cora Coralina, a grande poetisa goiana. Ela, que viveu oprimida e discriminada grande parte de sua juventude, preferia os tempos de sua velhice, que considerava infinitamente melhores... Os tempos atuais são melhores, com ou sem leitura... Talvez até porque líamos mais, muito mais, mas - num país de analfabetos - éramos poucos os que líamos...

Se demos às pessoas a possibilidades da alfabetização em massa, seria a hora de garantir-lhes mais cidadania, ampliando-lhes os horizontes através da leitura. De qualquer tipo, em qualquer nível, para qualquer finalidade. Mesmo que não sejam os clássicos que reverenciamos, ainda que sejam aquelas obras que particularmente não gostamos... Até porque a razão deve estar do outro lado, não do nosso em que constituímos minorias...

Brasília, janeiro de 2005.




 

 

 
 
 
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