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NUNO TRINTA DE SÁ
Nascido em Turcifal, Portugal, em 1973, quatro livros de poemas publicados, um homem do mundo da comunicação, da poesia e da política. É o autor de O Rio És Tu (Margem, 1997), Morangos Chineses (Universitária, 2002), Acabo em Ti (Universitária, 2002) e Andem Lá (Corpos Editora, 2007).
QUATRO POETAS NUMA GARRAFA À DERIVA NO ATLÂNTICO: Fernando Grade, M. Parissy, Nuno Rebocho, Nuno Trinta de Sá. Cascais: Europress, 2004. 36 p. Ex. bibl. Antonio Miranda
poema dentro da garrafa
não consigo escrever mais esta noite
estou só na vastidão do tejo
durmo sozinho com as minhas musas
preparo um café com whisky
não me lembro se pra dormir ou não
os meus fantasmas adormecem no fio de rugas de alcântara
as máscaras turvam sombras de rua, embriagam
quem em sítio algum o frio da morte
arrefeça o calor de existir
preparo poemas, s.o.s. de mim mesmo, breve traço e mero trecho para, quando na praia do muchacho os lançar
(quase forçado ao mar)
um resto de mim possa dormir eternamente
num provável algures azul.
maresias (I)
a turma dos doidos chega ao lugarejo
grávidos, iniciados, veteranos, bêbedos, sabáticos, mundanos
xistos, poetas, camas
promessas a lançar os pássaros
na pressa exacta
que há no mar
de cada um.
maresias (II)
observem, alheados, a realidade táctil
a fruta que se sorve, a contragosto, no cais velho; o desgosto percebem agora a alegria:
da gaivota serena, da compaixão epidérmica, do abraço lavado as piruetas da paixão
toda a dança uterina
somente o passo incerto, pois leve, da esperança.
maresias (III)
encontro vestígios por aqui, local de palmeiras loiras e mulheres
subtis
uma garrafa com pingos já acres de festa
nesta ilha me sobro ao mundo
dou dois passos na preta terra de vulcões de meca e árvores
empedradas
colho a água do todo
até acho que perdi sangue na imensidão celeste do momento
o resort está assim escuro e longe
a cidadela mostra neste instante os seios fartos ao mendigo para a água prateada embalar o xaile do sunset
eis o areal profundo, braços de guitarras, ao despique, a
camelar
para ver a espuma algada, um qualquer fundo sonoro e
inexacto
de tudo
quando o raio de sol mudar de cor, cobrirás o peixe com limão
e sonhos.
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Página publicada em janeiro de 2021
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