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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Foto e biografia: /www.meloteca.com/

 

 

JOEL CANHÃO

(pseudônimo: MOURO SERPA)

 

 

nasceu em 1927 e morreu em 2010. Concluiu o Curso Superior de Música em Piano no Conservatório de Lisboa, cursou Órgão no Centro de Estudos Gregorianos e diplomou-se no Liceu Normal de Pedro Nunes, com o Curso de Professores de Canto Coral para o Ensino Secundário.

A sua atividade esteve ligada à docência em vários estabelecimentos de ensino e à direção de vários coros como o Orfeão Escalabitano, o Grupo Coral Alfredo Keil, o Orfeão Académico de Coimbra e o Coro dos Antigos Orfeonistas da Universidade de Coimbra.

Desempenhou o cargo de organista titular da Universidade de Coimbra. Foi Presidente do Conselho Diretivo da Escola Secundária Infanta D. Maria (Coimbra), Vice-Presidente da Associação Portuguesa dos Amigos do Órgão (APAO) e membro do Conselho Fiscal da Associação Portuguesa de Educação Musical (APEM).

No domínio da música, as suas publicações abrangem um leque variado de livros sobre educação musical, canções, coros, peças para piano e outros instrumentos.

No campo literário deu à estampa vários livros de poesia sob o pseudónimo de Mouro Serpa, além de outros trabalhos dispersos por jornais e revistas. Dos seus escritos sobre órgãos de tubos conimbricences, salienta-se o que foi dedicado ao órgão do Seminário Maior, cuja divulgação conduziu ao seu restauro.

Obras editadas na IUC:

O Órgão Barroco da Capela Da Universidade de Coimbra. 978-989-26-0809-9.

The Baroque Organ of the Coimbra University Chapel. 978-989-26-0376-6.

 

 

 

 

MEMÓRIA EGÍPCIA

 

 

"É o piloto que vê longe que fará com que não se vire o seu barco ",

Amenemope, sapiência egípcia.

Ao meu filho Telo

 

 

Na margem do Grande Rio
vejo correr solenes as barcas do Faraó
apinhadas de vozes e de gestos
que mal traduzo ao longe!

 

Disfarçado na precária sombra de um sicômoro
ninguém me topa ali!

 

Mas não estou só

porque rente às águas, mais abaixo

chapinham duas crianças

no jogo de quem molha mais.

 

Entregues à brincadeira,

de soslaio vigiam-me a pulsação

e o mais leve movimento dos lábios e das pálpebras

até ao cair da noite!

 

 

 

 

OFERENDA

 

"apparentrarinatesingurgito vasto. "///(Virgílio, Eneida)

A Helena de Tróia

 

 

Oh! Dádiva dos deuses

estas cerejas que me iluminam o rosto

quando invento a tua boca rubra,

 

música de grilos embriagados

nas locas da minha pele a arder

em gregorianos sons de cana e junco,

 

canto rectilíneo de invisíveis cigarras
raspando eternidade em lâminas de tempo
carente de milhas orvalhadas!

 

Oh! Herança da geração de Zeus

que me envolve a cabeça

num turbante de juventude eterna,

 

tempo solar colado ao sangue,

enigma de serpentes mortas às mãos de Héracles

no berço conspurcado de corvos e de abutres

 

Oh! Eterna dádiva de amáveis deuses loucos

cumpridores de manhãs impensáveis

e de rolas a arder nos meus ombros,

 

de furibundas ondas feitas vinho

pelo néctar de gladiadoras abelhas

dos meus cortiços de mel dourado,

 

de beijos de musa peregrina

sobre inocências de infância

e de infinitas memórias de salgueiros que amei

 

obscuro lusitano, eu vos saúdo

com o perfume gratuito de tílias da minha rua

e do teimoso limonete cravado no coração!

 

  1. "aparecem raros navegadores no vasto abismo..."

 

 

 

 

Página publicada em março de 2020


 

 

 
 
 
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