Home
Sobre Antonio Miranda
Currículo Lattes
Grupo Renovación
Cuatro Tablas
Terra Brasilis
Em Destaque
Textos en Español
Xulio Formoso
Livro de Visitas
Colaboradores
Links Temáticos
Indique esta página
Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

JOÃO REBOCHO 

 

JOÃO REBOCHO (1960 - ) Nasceu em África nos anos sessenta. Fez estudos secundários em Gouveia. Tem uma licenciatura e uma pós-graduação pela Universidade de Coimbra. Frequentou um curso de Escrita Criativa da Universidade Lusófona. Ganhou o Prémio Fnac/ Teorema 2000. Atualmente é Bibliotecário em Gouveia.

João Rebocho é considerado pela crítica como um autor pioneiro da nova literatura portuguesa graças à originalidade da sua construção criativa, com textos rápidos, inesperados e improváveis, mas também a um processo narrativo que se serve de figuras de estilo e de artifícios no uso da pontuação.

Fonte da biografia: http://www.bmel.pt    

 

 

REBOCHO, JoãoMentira vontade.  Gouveia /Portugal/: Gráfica de Gouveia, 2018.  94 p.  Capa: Pedro Coito.  Fotografia capa: Maria João Carvalho. 

 

         algum comprimido
         para escrever bem
         alguma poção mágica
         e eu não partilhava com ninguém
         ou música Kurt Weill
         caída no egoísmo
         e o egoísmo
         por favor, um xarope para o egoísmo
         e eu
         farmácia fechada
         blindada
         e vosotros a ver navios,
         o remédio para as penas do inferno
         no meu bolso
         para as maçadas bíblicas
         ela por ela
         balde de água fria para
         cada um dos penitentes
         palavras cruzadas irresolúveis
         afetos miseráveis e
         pouca esperanças
         é o que concedo

         *

         conceber um lugar
        
pessoas com nomes
         estradas percorridas
         ou o serviço militar
         ir em certo dia
         a palavras novas
         uma língua nova
         paisagem descoberta
         aventura da vida
         e mais livros que ninguém leu
         engendrar pela primeira vez,
         matar os cavalos de cansaço
         e os amigos
         ou os novos
         transfigurados
         e a realidade instalada aqui
         só confirmar
         certezas
         eh pá, tudo tão perto de ruir
         volúvel
         o camuflado no fio
         que tempo de verbo aqui?

         *

        
         apareço sem avisar
        
na casa do
         homem
         de quem somo filhos
         tantos dias doente morto
         e pouco ânimo
         carregado de dívidas
         asilo comboios, senhor
         mudar o tempo
         as linhas
         e nem onde sentar-me

         o meu pai adolescente
         leva o velho pela mão
         um homem
         um gajo vulnerável

         deixo espaço em branco
         para completar
         um dia melhor que eu

 

REBOCHO, JoãoRapazas e raparigos.   S.l. Portugal: Edição do Autor, 2015.  109 p. 14,5x20,5 cm.   Capa:  Pedro Coito; Maria João Carvalho.   Impressão Gráfica do Gouveia.  Ex. bibl. Antonio Miranda

 

                tão perto de ser abstrato
                mas tão perto tão perto
        ou coisa nenhuma
        atirar alguém para a linha
        na plataforma
        do metro de areeiro

        ou então quase nada
        vandalizar a tua estátua
        memória
        a estátua de ti mesmo
        devagar
        pintar-lhe as unhas
        ou de nemézio
        à entrada da praia
        monótona
        das maçãs
        e
        assim passou uma tarde

 

        tudo é pouco
       
estreito
        curto nas mangas

        no lugar de um poema que desafiasse a morte
        lágrimas ou
        uma ponte entre as lágrimas
        e mais murros no estômago
        corpo
        nervos arqueados
        sangue em fio cordas
        apneia asma
        que não me deixava fumar
        (são sebastião da falta de ar)
        os sentidos e as flechas Argel
        para o sofrimento
        o abandono
        não servem,
        saltar da ponte sem corda
        asas
        mais coragem à noite

        desafiasse a morte
        e continuasse perto,
        infância quartos sem luz
        os fantasmas da casa vieram contigo
        pelas estradas cinemas ausências cidades
        para sempre de mãos dadas


               

REBOCHO, JoãoRuas lavadas. S.l. Portugal: Edição do Autor, 2016.
 92 p.    15x21 cm   Impressão Gráfica  de Gouveia.  Ex. bibl. Antonio Miranda

               

 
nunca de mais o dinheiro
 a elegância
que dá o sofrimento
nunca de mais sair contigo
o teu nariz partido

nunca de mais
as noites
os bares
duque de Windsor
príncipe de Tupperware
sangrar o vinho e
nunca de mais um poema do
Nemésio e mais livros
a nossa adolescência e a língua
que falávamos
 


 

       desafiar Deus
       
do trabalho penoso suado
        Deus da escrita
        no alcatrão
        das miragens
        deitado na estrada
        à beira de arder
        Deus dos ferreiros da torre Eiffel
        e das estrelas do mar
        ao sol líquido do verão, e
        daí aos ocioso Deus da poesia
        da casa do Manoel de Barros

        o Deus dos 47 mil dólares
        de talento
        desafiá-lo para criar e destruir
        criar e descriar
        dar existência e dizer chega
        desafiar e ganhar

        Deus do trabalho
        Deus dos construtores de barragens
        rezando em silêncio
        Deus vegetariano dos talhos e
        dos professores de medicina legal
        honesto Deus das corridas de galgos
        paciente Deus da gabarolice
        a toda hora
        chamado como testemunha
 

 

        nem o que sou
       
consigo ser        

        para ninguém
        não sou o gajo de ninguém
        o cariño
        o português
        o Chamorro
        o cabra
        o São João da Arga
        o Bentinho ou o Escobar
        o Manteiga Fresca
        de ninguém.

        nunca fui,
        ou já não sou
        há que séculos

 

Página publicada em janeiro de 2018


 

 

 
 
 
Home Poetas de A a Z Indique este site Sobre A. Miranda Contato
counter create hit
Envie mensagem a webmaster@antoniomiranda.com.br sobre este site da Web.
Copyright © 2004 Antonio Miranda
 
Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Home Contato Página de música Click aqui para pesquisar