FRANCISCO MANUEL DE MELO
Dom Francisco Manuel de Melo (Lisboa, 23 de Novembro de 1608 – Lisboa, Alcântara, 24 de Agosto ou 13 de Outubro de 1666) foi um escritor, político e militar português, ainda que pertença, de igual modo, à história literária, política e militar da Espanha. Historiador, pedagogo, moralista, autor teatral, epistológrafo e poeta, foi representante máximo da literatura barroca peninsular. Dedicou-se à poesia, ao teatro, à história e à epistolografia. Tendo publicado cerca de duas dezenas de obras durante a sua vida, foi ainda autor de outras, publicadas postumamente. Aliou ao estilo e temática barroca (a instabilidade do mundo e da fortuna, numa visão religiosa) o seu cosmopolitismo e espírito galante, próprio da aristocracia de onde provinha. Entre suas obras mais importantes, pode-se destacar o texto moralista da Carta de Guia de Casados ou a peça de teatro “Fidalgo Aprendiz” (que é uma "Farsa", como foi descrita pelo seu autor desde o início e não um "Auto" como tem vindo a ser designada por edições recentes).
Biografia completa em https://pt.wikipedia.org/wiki/Francisco_Manuel_de_Melo
SONETO
Formosura, e Morte, advertidas por um corpo
belíssimo, junto à sepultura.
Armas do amor, planetas da ventura,
Olhos, adonde sempre era alto dia,
Perfeição, que não cabe em fantasia,
Formosura maior que a formosura:
Cova profunda, triste, horrenda, escura,
Funesta alcova de morada fria,
Confusa solidão, só companhia,
Cujo nome melhor é sepultura:
Quem tantas maravilhas diferentes
Pode fazer unir, senão a morte?
A morte foi em sem-razões mais rara.
Tu, que vives triunfante sobre as gentes,
Nota (pois te ameaça uma igual sorte)
Donde pára a beleza, e no que pára.
SONETO
Alegria custosa
Enfim que aquela hora é já chegada,
Que até nos passos traz preço e ventura,
Tão merecida de uma fé tão pura,
E de um tão limpo amor tão esperada.
Ela tardou em vir, como rogada
Da viva saudade, que ainda dura.
Ora bem pode vir, e estar segura,
Que há-de ser possuída a desejada.
Senhora, se com lágrimas convinha
Sentir somente o mal, e agora o canto,
É digno de outra glória verdadeira;
Não cuideis que é fraqueza da alma minha,
Mas que de costumada sempre ao pranto,
Não sabe festejar de outra maneira.
Página publicada em fevereiro de 2019
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