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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

EGITO GONÇALVES
(1920-2001)

 

José Egito de Oliveira Gonçalves (Matosinhos, 8 de Abril de 1920 — Porto, 29 de Janeiro de 2001), mais conhecido por Egito Gonçalves, foi um poeta, editor e tradutor.

Publicou os primeiros livros na década de 1950. Teve como atividade profissional a administração de uma editora.

A sua intensa atividade de divulgação cultural e literária concretizou-se, a partir dos anos 50, na fundação e/ou direção de diversas revistas literárias, como A Serpente (1951), Árvore1 (1951-53), Notícias do Bloqueio (1957-61), Plano (1965-68, publicada pelo Cineclube do Porto) e Limiar. Em 1977 foi-lhe atribuído o Prémio de Tradução Calouste Gulbenkian, da Academia das Ciências de Lisboa pela seleção de Poemas da Resistência Chilena e, em 1985, recebeu o Prêmio Internacional Nicola Vaptzarov, da União de Escritores Búlgaros.

Em 1995 obteve o Prêmio de Poesia do Pen Clube, o Prêmio Eça de Queirós e o Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores com o livro E No Entanto Move-se. A sua obra encontra-se traduzida em francês, polaco, búlgaro, inglês, turco, romeno, catalão e castelhano.

Faleceu em 2001, e o seu último livro, Entre Mim e a Minha Morte Há Ainda um Copo de Crepúsculo, foi editado cinco anos depois.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/

 

 

DOZE JOVENS POETAS PORTUGUÊSES. Org. Alfredo Margarido e Carlos Eurico da Costa.  Rio de Janeiro: Serviço de Documentação, Ministério da Educação e Saúde, 1953.  56 p. (Os Cadernos de Cultura) 14x19 cm. Impresso pelo Departamento de Imp. Nacional. Inclui os poetas: Alberto de Lacerda, Alexandre Pinheiro Tôrres, Alfredo Margarido, Antonio Maria Lisboa, Carlos Eurico da Costa, Carlos Wallenstein, Egito Gonçalves, Eugênio de Andrade, Fernando Guedes, Henrique Risque Pereira, Mário Cesariny de Vasconcelos, Mário Henrique Leiria.  Ex. bibl. Antonio Miranda

 

PARAGEM

 

O pássaro fendeu os ares e tombou morto.

Caiu sobre um canteiro onde floresciam lírios

E imediatamente as vísceras comunicaram a desagregação.

Então vieram as formigas

Assaltaram-no,

 

Sugaram-no em milhões de partículas...

E o pássaro coberto de negrura movediça

Foi diminuindo de volume

Esquecido dos sóis que procurara.

 

 

FAR-WEST

 

A bailarina desliza, veloz, no foco luminoso

E penetra na "tela", onde fica a branco e negro.

Sorridente inicia o bailado sobre o longínquo palco

E a sala fica subitamente purificada pelo silêncio.

 

Nos seus pés volteia o fulcro do romance

Em que as pistolas gritam, os vaqueiros morram

E na noite as cavalgadas faíscam

Chispando nos caminhos como a lua nas águas.

 

Todos anseiam o sinal do início.

Nervosas mãos apalpam os cintos.

O impotente sheriff vai mascando o charuto

Enquanto as cadeiras esperam ser desfeitas.

 

O mundo divide-se entre o prenúncio de pólvora

E as musculadas coxas da bailarina seminua

Que, natural, se move inconsciente

Como uma chama ao longo do rastilho.

 

 

EPISÓDIO

 

A Morte assistiu com entusiasmo ao espetáculo!

Riu com os cowns

(sobretudo naquela anedota do esqueleto)

Deliciou-se com os malabaristas

E os exercícios de força tiveram-lhe a atenção suspensa.

Mas agora,

No "ciou" do circo,

Enquanto a trapezista voava a sua carne branca

Entre escadas de corda,

Os olhos foram-lhe tomando um brilho pardacento

De mar alterado.

Então levantou-se da sua cadeira na primeira fila

E chegou ao centro da pista precisamente a tempo

De recolher a trapezista ao precipitar-se no solo.

 

 

CONTINUIDADE

 

Na hora agreste da tempestade

Quando o vendaval chegou rufiando tambores

E os pássaros desertaram, voando para novos céus,

Os homens ficaram em fila propicia silenciosos,

Encostados à muralha e ignorantes disso.

Aviões substituíram os pássaros insubstituíveis. . .

Bocas de metralhadora assobiaram balas. . .

Os homens gritaram,

Torceram-se em curvas de dor e de morte,

Amontoando-se no solo sujo

Numa agonia que nenhuma flor adoçou.

 

Muitos escaparam porém.

Fatigado de apunhalar a insensível argila

O vendaval quebrou e sumiu.

Os pássaros voltaram, as flores abriram. . .

Os homens curaram as suas feridas,

Espreguiçaram-se ao sol da primavera

E encostaram-se de novo na muralha

Em fila propícia.

 

 

RETRATO

 

Esperando, identifico-te na estátua,

A rima fecunda, o noivado secreto,

As pequenas coisas de ilusionismo fácil

Que servem para explicar o teu encontro.

 

Nas ruas da cidade caminhas apressada

Entra automóveis e imaginários amplexos

Em direção à minha boca de cativo

Na arquitetura absurda desta tarde,

 

Trazes contigo o segredo desenhado

Que derrete a moldura nas paredes

E desfoca a paisagem, chapa branca

Que te entrega era relevo à minha sede.

 

Feito em sensualidade e rosas brancas

Teu desnudo coração atrai o tempo

Destruindo a lembrança das ausências

Na poeira ilocalizável dos minutos.

 

 

INSCRIÇÃO

 

O desespero transforma-se em asfalto,

As tempestades calafetam as janelas.

O turista passeia. No mamilo do monte

Um moinho ergue as quatro velas nuas.

 

Na mais profunda gruta da floresta

Se conhece a mágica do cenário.

O sangue dos cadáveres sulca as rochas

E queima a atmosfera como um geiser.

 

Fértil só o teu nome que se inscreve

Nos pretextos do vento e da planície

E, aguardando o momento de florir,

Apunhala a resistência das manhãs.

 

Fértil, a canção que te escorre dos dedos

E aponta um desafio contra a morte.

Um avião mergulha e bombardeia

A cidade perdida e os labirintos.

 

Fértil é a tua nudez comunicável. . .

As tuas pernas de porcelana quente,

E a linha de espuma que embeleza

A rota dos pacíficos navios.

 

 

 

LÍRICAS PORTUGUESAS. II Volume. Seleção e apresentação de Jorge de Sena. Lisboa, Portugal: Edições 70, 1983.  448 p.   13,5x20 cm.  

 

 

         PRÉ-AMÉRICA

 

         Anos longos aqui sobre estas praias
         olhamos o horizonte, o além das ondas.
         A mão protege os olhos. Vigiamos.

         Aqui montamos tendas e esperamos
         da descoberta a vela aventureira;
         as oferendas alinhadas para a entrega.

         Impede o Adamastor as nossas águas.
         O sal roeu os fios que poderiam
         comunicar as rotas necessárias.

         Incendiamos a noite com fogueiras:
         cortamos lenha para guiar Colombo:
         nada, pela manhã, varou nas praias.

         Nasce dos penedos o fragor imenso
         que inutiliza os gritos que tentamos.
         A névoa invade o nosso continente.

         Nenhuns novos odores traz o vento.
         Morremos pouco a pouco neste vácuo
         que a solidão nos serve como leito.

 

                   (Os Arquivos do Silêncio)

 

 


         “CREIO TERMOS SIDO FEITOS...”

 

         Creio termos sido feitos para amar
         tranquilos. Creio sermos velhos
         e termos já sofrido o necessário
         para comer em paz e ver o sol
         cada manhã subir um novo dia
         sem angústia alicerçada no nascente.
         Creio termos gritado já bastante
         em todos estes séculos —  estes duros
         anos que passaram — Navegamos
         em círculo, morremos, renascemos...
         Fugazes as tangentes que traçamos
         e falharam a alegria. Tanto tempo
         e nova morte espreita. A mão
         habitual nos comprime as artérias.
         Sempre os beijos longos nos escapam.
         Não é então para nós? Não é ainda
         o tempo de sorrir?

 

                        (Os Arquivos do Silêncio)

 

 

 

 

Ver poemas mais recentes do poeta: http://www.citador.pt/poemas/a/egito-goncalves

 

 

Página publicada em setembro de 2014. Ampliada em agosto de 2016.

 


 

 

 
 
 
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