é o pseudônimo literário de Maria José da Silva Viana Fidalgo de Oliveira, poeta, cronista e tradutora portuguesa, nascida em Lisboa, em 1960. É formada em Literatura e Linguística Portuguesa e Francesa, tendo feito especialização em Linguística e em Ciências Documentais.
Em 1985 publicou, em edição de autor, "Um jogo bastante perigoso", seu primeiro livro de poesia. A seguir, publicou : "A Pão e Água de Colónia" (1987) , "O Marquês de Chamilly" (1987), "O Decote da Dama de Espadas" (1988), "Os 5 Livros de Versos Salvaram o Tio" (1991), "O Peixe na Água" (1993), "A Continuação do Fim do Mundo" (1995), “A Bela Acordada” (1997), “Clube da Poetisa Morta” (1997), “O Poeta de Pondichéry” seguido de “Maria Cristina Martins” (1998), “Florbela Espanca espanca”, (1999), “Sete rios entre campos” (1999), “O Regresso de Chamilly” (2000),” Irmã Barata, Irmã Batata” (2000), “ A Obra” (2000) e "A mulher -a-dias" (2002).
para a Fiama, que não gosta de cisnes e que escreveu “Cisne”
(O cisne persegue a Fiama no quintal
a Fiama persegue o cisne no poema
sarada a mão direita da poetisa
a poetisa pode escrever sobre o cisne
(de ódio de cisne e de ócio de Fiama
se faz a literatura portuguesa
minha contemporânea)
depois a Fiama persegue o cisne no quintal
durante um quarto de hora
e o cisne persegue a Fiama no poema
pela vida fora)
*
Clarice Lispector,
a senhora não devia
ter-se esquecido
de dar de comer aos peixes
andar entretida
a escrever um texto
não é desculpa
entre um peixe vivo
e um texto
escolhe-se sempre o peixe
vão-se os textos
fiquem os peixes
como disse Santo António
aos textos
In Clube da poetisa morta
O amor
é foda
o amor
é boda
(a senhora sabe
da poda?)
o amor
está sempre
fora
de moda
é preciso amar
atrever-se a amar
andar com este
e com este
*
Deus é a nossa
mulher-a-dias
que nos dá prendas
que deitamos fora
como a vida
porque achamos
que não presta
Deus é a nossa
mulher-a-dias
que nos dá prendas
que deitamos fora
como a fé
porque achamos
que é pirosa
*
Gosto de me deitar
sem sono
para ficar
a lembra-me
das coisas boas
deitada
dentro da cama
às escuras
de olhos fechados
abraçada a mim
In Florbela Espanca espanca
Poemas extraídos da revista POESIA SEMPRE, Num. 26, Ano 14, 2007. Edição da Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro.
LOPES, Adília. Antologia. Posfácio de Flora Süssekind. São Paulo: 7Letras; Cosac & Naify, 2002. 240 p. (Coleção Ás de colete) 14,5x21,5 cm. Capa e projeto gráfico: Elaine Ramos. capa dura ISBN 85-7503-138-4 Ex. bibl. Antonio Miranda
NATURA ET ARS
Uma floresta é unm labirinto?
um deserto pode ser rocaille?
a vida é um romance?
o mundo é um palco?
um florete é uma flor?
uma serpentina é uma serpente?
Imagino o fim da Terra assim
todas as casas e todas as ruas
desaparecem
assim como todas as pessoas
graças a um cataclismo
sobrevivem apenas os telefones
as baratas e as listas dos telefones
marcianos nos dias a seguir
tentam interpretar a lista dos telefones
os marcianos não estabelecem uma relação
entre os telefones e a lista dos telefones
mas entre a lista dos telefones e as baratas
e essa relação é plenamente satisfatória
PEDRA ESTÁ apaixonada
por Hipólito
Hipólito não está apaixonado
por Fedra
Pedra enforca-se
Hipólito morre
num acidente
D ido está apaixonada
por Eneias
Eneias não está apaixonado
por Dido
D ido oferece uma espada
a Eneias
Eneias esquece-se da espada
quando se vai embora
Dido suicida-se
com a espada esquecida
por Eneias
Um desgosto de amor
atirou-me para um
curso de dactilografia
consolo-me
a escrever automaticamente
o pior são os tempos livres
Página publicada em novembro de 2009