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MANUEL ORTIZ
(1893-1933)


 Publicou as seguintes obras: Eireté, comédia em um ato, Surgente, poemas;
 El crimen de Tintalila, La conquista e Pepitas, poemas "brevísimos".

TEXTO EN ESPAÑOL y/e TEXTO EM PORTUGUÊS

 
Tradução de José Jeronymo Rivera

 

LOUCA! 

Passo! Cedei o passo!
É rainha e é pobre. Não quer homem crasso
que lhe beije as formas; é louca a rainha.
Cedei o passo à rainha de funda pupila da cor da esmeralda,
a louca desnuda que, real, desalinha,
por único manto,
astral cabeleira, como um sonho de ouro cobrindo-lhe a espalda.

Cedei o passo! corre a rainha, a louca,
com um beijo grande e um morno pedaço de canto na boca.

Em noites de estio se impregna de lua, perfume e penumbra
e corre devota ao templo das Artes para uma plegária;
ali não a alumbra
nem lâmpada débil nem pálido círio de luz funerária,
somente a beleza, a sacra beleza lhe dá luminária.

Amigos: em caso que alguma
mulher ajoelhada, desnuda na sombra rezando encontreis,
passai, não faleis;
é ela, é a louca, devota das Artes em preces à Lua.

As cruezas do inverno não secam, não tiram
a rosa do canto que leva na boca...
Suas chagas lumíneas perfumes expiram,
e as beija e bendiz mil vezes a louca.

Dá-lhe a primavera suas salvas de olores,
as ondas do rio seu perpétuo e suave rumor de orações;
a noite morena lhe dá seu silêncio, suas sidéreas flores...
E ainda tem fome de mais sensações.

Em noites augustas de inútil martírio
a louca pretende, com ardor de grandeza,
pegar uma estrela, fazer dela um lírio.
- Oh louca divina, que canta e que chora, que ri e que reza;
atreve-te sempre, é grande este culto, que poucos professam.

Louca! suporta a tortura sacra e luminosa
de tuas ânsias todas e teus padeceres
e segue cantando canção perfumosa;
és tu a bendita louca mulher entre todas as mulheres.

Amigos, em caso que alguma
mulher ajoelhada, desnuda na sombra rezando encontreis
passai, não faleis;
é ela, a louca, devota das Artes em preces à Lua;
é ela minha Alma! rainha que é louca,
alma luminosa, de boêmio e de artista, que vai entre vós
com um beijo grande e um morno pedaço de canto na boca.



¡LOCA!

¡Paso! ¡Dadle paso!
Es reina y es pobre. No quiere ni el raso
que bese sus formas; es loca la reina.
Dad paso a la reina de honda pupila color de esmeralda,
la loca desnuda que, regia, despeina,

por único manto,
su astral cabellera, como un sueño de oro cubriendo la espalda.

¡Dad paso! que corre la reina, la loca,
llevando un gran beso y un tibio pedazo de canto
en la boca.

En noches de estío se empapa de luna, perfume y penumbra
y corre devota al templo del Arte a hacer su plegaria;
allí no le alumbra

ni lámpara débil, ni pálido cirio de luz funeraria,
sino la belleza, la sacra belleza de la luminaria.

Amigos: en caso que alguna
mujer de rodillas, desnuda en la sombra rezando encontréis,
pasad, no le habléis;
es ella la loca, devota del Arte que reza a la Luna.

Crudeza de invierno no seca y consume
la rosa del canto que lleva en la boca...
Sus llagas lumíneas que sangran perfume,
las besa y bendice mil veces la loca.

Le da primavera sus salvas de olores,
las ondas del río su perpetuo y suave rumor de oraciones;
la noche morena le da su silencio, sus sidéreas flores...
Y aun tiene hambre de más sensaciones.

En noches augustas de inútil martirio,
la loca pretende, con sed de grandeza,
tomar una estrella volviéndola lirio.

-Oh loca divina, que canta y que llora, que ríe y que reza;
atrévete siempre, es ese un gran culto que pocos profesan.

¡Loca!: soporta, la tortura sacra y luminosa
 de todas tus ansias y tus padecers
 y sigue cantando canción olorosa;
 tú eres la bendita loca mujer entre todas las mujeresl.

Amigos: en caso que alguna
mujer de rodillas, desnuda, en la sombra rezando encontréis,
pasad, no le habléis;
es ella la loca, devota del Arte que reza a la Luna;
¡es ella mi Alma! reina que está loca,
alma luminosa, de bohemio y de artista, que va entre vosotros
llevando un gran beso y un tibio pedazo de canto en la boca.
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