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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


LEILA ECHAIME

Foto por Marjorie Rose Sonnenschein

LEILA ECHAIME

 

 

Nasceu em São Paulo em 14/08/1935. Cursou a Escola de Arte Dramática de São Paulo sob a direção de Alfredo Mesquita. Iniciou sua carreira literária em 1981 com a publicação de “Flauta Silente”, poesia, Massao Ohno Editor.

 

É membro do Clube de poesia de São Paulo. Fez parte da diretoria da União Brasileira de Escritores e também da diretoria do Clube de Poesia de São Paulo.

Participa ativamente de oficinas literárias e reuniões de poesia falada e escrita.

Tem seus poemas publicados em jornais, revistas e antologias literárias.

 

PRÊMIOS:

Menção honrosa outorgado pela União Brasileira de Escritores do Rio de Janeiro, pelo seu livro “Pequenos Cantos do Fraterno”. Prêmio “Marly de Oliveira” outorgado pela União Brasileira de Escritores do Rio de Janeiro, pelo seu livro “Delírios” (2007).

 

“No mundo dessacralizado em que vivemos, esse canto de amor poderá parecer estranho e extemporâneo. Talvez essa possibilidade extrema da mulher que se torna clausura para que nada de seu amor se perca ou escape é uma curiosa enantiodromia (conversão no seu oposto) dessa carência crescente da capacidade amorosa dos seres humanos. A banalização do amor é um dos estigmas alarmantes da decadência dos valores. E, então, aparece esta voz feminina que grita e ao mesmo tempo balbucia amorosamente, despertando do sono de morte aquilo que parecia irrecuperável e fadado à extinção”.   Dora Ferreira da Silva, sobre Cantares da Prisioneira.

 

SOBRE A AUTORA: “O Silêncio da Flauta” (Ensaio crítico de Juvenal Netto).

 

Obra  poética:  Flauta Silente, 1981, Massao Ohno e Roswintha Kempf Editores; Aveávida, 1983, Massao Ohno e Maria Lydia Pires e Albuquerque Editores; Poesia – Poesia, 1986, Massao Ohno Editor; Pequenos Cantos do Fraterno, 1996, Massao Ohno Editor; Longe de Mim, 1997,  Massao Ohno Editor; Poemas do Encantado,  1998, Massao Ohno Editor; Cantares da Prisioneira, 2003, Massao Ohno Editor; Delírios, 2006, Massao Ohno Editor; Almas minhas inquietas,  2007, Massao Ohno Editor; Elegíadas, 2007, Massao Ohno Editor. 

TEXTOS EM PORTUGUÊS   /   TEXTOS EN ESPAÑOL

 

ECHAIME, Leila.  Poesia reunida.  São Paulo: Nankin, 2012.   608 p.  14x21 xm.  ISBN    978-85-7751-078-8   Apresentação de Carlos Felipe Moisés.  Reune poemas dos livros: Flauta silente, Aveávida, Poesia-poesia, Pequenos canos do fraterno, Longe de mim, poemas do encantado, Cantares da prisioneir, Delírios, Almas minhas inquieta,    Elegíadas, Odes do desespero, Voltei.  Col. A.M.

A seguir, dois poemas extraídos de  POEMAS DO ENCANTADO:

 

 

XL

 

Quando eu passo pelas

Ruas da cidade,

As mulheres do meu povo

Gritam em tom de alarde:

- Já é tarde!

-Já é tarde!

De onde vens, namoradeira,

De que rios, de que águas

De que montes, de que beiras?

Vens da fonte? Estás sozinha?

Onde fica o namorado?

Onde fica o teu amante?

Esse de nós sempre invisível,

De nós sempre calado.

Com quem falas noite adentro,

Se és tão solitária, tão lendária,

E tão demente?

Assim me falam elas.

Sem saber que nessas noites

De vigília,

Nessas noites de magia,

Eu te abro as janelas

E te pinto em minhas telas,

De tintas negras, vermelhas, brancas

Amarelas.

 

 

 

XLI

 

Por que em mim significaste

Sina, estigma, desejo?

Por que sempre te vejo

Além do meu crepúsculo,

Um longo beijo -

E aquém da minha morte,

A minha sorte,

O meu caminho,

O meu destino,

Esse lampejo?

Quem és tu, ó Encantado,

Que me habitas, que me falas

Em tons de tintas,

E és de mim o mais secreto,

O mais certo

E o mais tarde?

És de mim, assim como

As águas são da terra,

Assim como dos campos são os lírios?

E o que significo para ti,

Além desses martírios,

Além dessa camponesa

Sôfrega,

Trôpega

Em sem sentido?

 

ODES DO DESESPERO

De
Leila Echaime
ODES DO DESESPERO
 São Paulo: Nankin, 2010. 87 p.
 ISBN 978-85-7751-055-9

 

Parece que essas Odes guardam certas ressonâncias camonianas (e neoplatônicas), uma vez que as perdas da vida vivida ameaçam a linguagem, a persistência da poesia e juntamente as identidades que a memória luta por preservar e revelar, mas soçobra como a nave nos mares do tempo e dos temporais:


                   E como é difícil encontrar
                   A quem se deu o seu amar
                   A quem se perdeu sem achar.



Na estrutura das formas poéticas as odes são livres como poemas do gosto modernista. Rimas sem esforço e sem procura, toantes e consoantes, sempre decorrentes do fluxo do pensamento, pois são poemas sobretudo pensantes. E obsessivos na busca, talvez metafísica, do sentido: da morte, do sonho, do amor, do desespero, da experiência e de saber pra onde foi todo o vivido. Estaria tudo no íntimo, na cidade, nas ruas?


Num recanto obscuro de cada poema, contudo, permanecem os escombros (as ruínas?) acumuladas dos dias do sol posto e da elegia do impulso vital que, entretanto, falam pela poesia.    VALENTIM FACIOLI

 

(excertos)

 

Ah, quanta distância existe
Do que de mim faz parte,
Do que de mim consiste.

*

Portanto, se me virem correndo
Pelas ruas,
As roupas rotas
Eu, infinita e quase louca,

Não me chamem pelo nome,
Não revelem minha fome,
Nem me impeçam de correr.

*

E, embora eu lhes pareça
Insana,
Porque a Morte, essa profana,
Vive em mim tão perto,
Que morrerei por completo,
Mesmo antes de eu morrer.

*

Vem esse canto tão triste,
Esse silêncio em riste
Que dividem o meu ser.

E me vejo em encruzilhadas,
Em ruas mal traçadas,
A dizer o não dizer.

*

Nada mais é meu agora,
Sou um lento passar das horas.


E sem mim, agora,
Meu velho sonho onde está?

*

Então, conheço a loucura que
Vem dessa tortura, dessa ausência
Tão escura que não pertence a
Ninguém.

*

Vem do meu mais profundo
Mundo, oriundo de um sofrimento
Que sem a medida do tempo,
Lateja nos meus sem-fins.
E um desespero que não diz
O seu começo, onde eu só reconheço
O tempo mais intenso, desse tão
Denso instrumento, que fala dentro
De mim.

 

===========================================================================

 

IV

 

Como eras belo,

Irmão,

Com teu rosto

Jovem

E teu porte viril.

 

Poeta dos poemas

Calados,

Anjo do olhar

De anil.

 

Eras assim

Quando partiste,

Belo e triste,

Próximo e distante.

 

Um instante

Além de mim.

 

XI

 

Da dor

Da tua morte

É que ficaram

Estes versos.

 

Canto

Angustiado

E dileto,

De uma chaga

Oculta

E latejante.

 

Delírio

De lírios

Celebrantes.

 

A cair-me

Pela fronte

A cada instante.

 

 

         (Pequenos Cantos do Fraterno, 1996)

 

 

XIII

 

E se já

Não te encontro

Nas aldeias,

Nas estradas,

Ou no mar,

Te buscarei entre

As rochas e os montes,

                        Nas fontes e nas cordilheiras,

E indagarei às romeiras

E às mulheres do povo,

Com quem eu cruzar,

 

Se te viram

Passar,

E se te disseram

Da dor

Desta fiandeira

De amor,

E deste amor

De te amar.

 

 

LIX

 

E visitarei as ruínas,

As praças

E os mosteiros,

E de monge em monge,

Te perguntarei o paradeiro,

Se vives aqui,

Ou no estrangeiro,

Ou se morreste

Em algum lugar.

 

E numa busca

Desvairada e resoluta,

Numa perda absoluta

De lutas consagradas,

Eu aquela que foi

A bem-amada,

Está sozinha

À procura,

À espera,

Na estrada.

 

Aquela que te amou

Sobre os escombros

E te esperou

De amor

Enquanto te buscava.

 

 

         (Longe de Mim, 1997)

 

VII

 

Cativa deste amor

E desta insana clausura

Pura

E te sinto mais meu

 

Este elo de pedras

Estas algemas de fogo

Te prendem ao meu

Corpo.

E nunca me dizem

Adeus.

 

E assim, longo do

Mundo.

Neste claustro tão profundo

É que te chamo

E pergunto:

 

Se és um louco

Absurdo.

Ou se és um ser

De Deus.

 

 

XX

 

E assim,

Prisioneira de mim,

E da torre do meu

Castelo

 

É que branquearam meus

Cabelos

De um branco muito

Velho

 

É que enrugou-se minha

Face

De umas rugas muito

Finas

 

Mas nunca desfiz

O elo

E sempre me fiz

Unida

 

Entre a torre

Do meu castelo

 

E o cerne da tua vida.

 

        

         (Cantares da Prisioneira, 2003)

 

 

 

IX

 

De ardência,

De vivência,

De amor.

Estou aqui ajoelhada,

Com a minha mais humilde

Palavra

E com o meu mais ardente

Louvor.

A te dizer de um tempo sempre

E de um fino e transparente

Tecer da minha dor.

A te dizer, ó Encantado,

Dos meus passos de pecados

E dos meus hinos de fervor.

E ainda a te dizer,

Ó Vulto Branco,

Desses cantos que te canto

E onde te elejo sem temor.

Ó tu, do meu caminho,

Dos meus anjos, dos meus lírios,

Fica á, sempre, comigo,

A dizer-me a tua casa.

E eu viver o teu mais ninho.

 

 

         (Poemas do Encantado, 1998)

 

 

De
ECHAIME, Leila
PEQUENOS CANTOS DO FRATERNO
São Paulo: Massao Ohno Editor, 1996. 
s.p. Capa: Perfil, cologravura de Selma Daffre. edição de 1000 exs. Composição Ysayama/3 de Comunicação. Impressão Palas Athena.  Autografado. Col. A.M. (EA)

 

 

XXXI

Em muitos
Momentos
Te sentia
Te pressentia
Comigo preocupado

Pois sabias
Que meu caminho
Muitas vezes
Era árido.

Ah! Nesses momentos
Como eras fraterno
Irmão-protetor

Que nem ficava
Sabendo
Se maior era
A minha
Ou a tua dor.

 

 

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TEXTOS EN ESPAÑOL

 

Extraídos de

ANTOLOGÍA DE LA POESÍA BRASILEÑA

Org. de Xosé Lois García

Salamanca: Edicions Laiovento, 2001

ISBN 84-8487-001-4

 

 

                               IV

 

                   Qué bello eras,

                   Hermano,

Con tu rostro

Joven

Y tu porte viril.

 

Poeta de los poemas

Callados,

Ángel de mirada

De añil.

 

Eras así

Cuando te fuíste,

Bello y triste,

Próximo y distante.

 

Un instante

Más allá de mi.

 

 

XI

 

Del dolor

De tu muerte

Quedaron

Estos versos.

 

Cântico

Angustiado

Y dilecto,

De uma llaga

Oculta

Y palpitante.

 

Delirio

De lirios

Celebrantes.

 

Cayéndome

Por la frente

A cada instante.

 

 

         (Pequenos Cantos do Fraterno, 1996)

 

 

XIII

 

 

Y si ya

No te encuentro

En las aldeas,

En las carreteras,

O en el mar,

Te buscaré entre

Las rocas y los montes,

En las fuentes y en las cordilleras,

E indagaré de las romeras

Y a las mujeres del pueblo,

Con quien yo me cruce.

 

Si te vieran

Pasar,

Y si te hablaran

Del dolor

De esta hilandera

De amor

Y de este amor

De amarte.

 

 

LIX

 

Y visitaré las ruinas

Las plazas

Y los monastérios,

Y de monge en monge,

Preguntaré tu paradero,

Si vives aqui,

O en el extranjero,

O si moriste

En algún lugar.

 

Y en una búsqueda

Desvairada y resoluta,

en una perdida absoluta,

De luchas consagradas,

Yo aquella que fui

La bien amada,

Está sola

Buscando

Esperando

En la carretera.

 

Aquella que te amo

Sobre los escombros

Y te espero

De amor

Mientras buscaba.

 

 

         (Longe de Mim, 1997)

 

 

Página publicada em janeiro de 2008.

 
 
 


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